2022 Notícias

ImPrEP: presença marcante na AIDS 2022

Mais uma vez, o ImPrEP deixou sua marca e bons resultados científicos em mais uma edição da Conferência Internacional de AIDS, em 2022 realizada em Montreal, Canadá, de 29 de julho  a 2 de agosto. Com uma programação bastante diversificada, o projeto teve como principal  destaque a organização do simpósio satélite “Evidências sobre a implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na América Latina: resultados do projeto ImPrEP”, além da disponibilização de conteúdos de 12 pôsteres, contribuindo de forma efetiva na luta contra a infecção pelo HIV no mundo. 

O simpósio foi mediado por Cristina Pimenta, representante do Ministério da Saúde do Brasil, que traçou um panorama geral sobre a trajetória do ImPrEP, seus objetivos, populações-chave, centros de estudo e fez um agradecimento especial aos pesquisadores de Brasil, México e Peru envolvidos com o projeto.  

Em seguida, passou a palavra para a pesquisadora principal do ImPrEP, Valdiléa Veloso, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), do Brasil, que abordou “PrEP entre gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans no Brasil – resultados e lições aprendidas com o estudo ImPrEP”.

Brasil

Valdiléa iniciou sua explanação apresentando o ImPrEP como um estudo demonstrativo e prospectivo, promovido de 2018 a 2021, com o objetivo de avaliar a oferta, a aceitabilidade e a viabilidade da PrEP oral diária com tenofovir/emtricitabina (TDF/FTC)  disponibilizada em uma consulta de único  dia, entre HSH e mulheres trans no Brasil, México e Peru. Um total de 9.509 participantes foi inscrito, sendo 94% HSH cis e 6% mulheres trans.

No Brasil, o projeto atuou em 14 centros localizados em 11 cidades, com  42,7% do público composto por maiores de 30 anos, 37,6% com cor de pele/raça autodeclarada como branca, 36% parda e 15,2% negra. Afirmou que 79% completaram o ensino secundário, 97% procuraram inicialmente as unidades de saúde em busca de PrEP, 46,2% tinham menos que cinco parceiros sexuais e 49,9% não sabiam dizer se haviam feito sexo com um parceiro que vivia com HIV.

Para a pesquisadora principal, os resultados apontam que o ImPrEP como um todo foi bem-sucedido em incluir HSH e mulheres trans com alto risco de infecção pelo HIV, destacando a  baixa desistência precoce, a viabilidade da disponibilização de PrEP em consulta de único dia e a adesão autorrelatada da profilaxia na quarta semana como um forte preditor de engajamento a longo prazo.

Fez questão de frisar que o número de casos de infecções sexualmente transmissíveis foi grande, mas não aumentou durante o uso da PrEP e que, apesar da profilaxia, a incidência do HIV continua alta entre mulheres trans, pessoas mais jovens, negros e pardos e não usuários da profilaxia, e que determinantes sociais e estruturais precisam ser abordadas para que os benefícios da profilaxia sejam alcançados em sua plenitude. (Mais informações sobre a apresentação, clique aqui http://imprep.org/2022/08/12/simposio-imprep-aids-2022-prep-entre-hsh-e-mulheres-trans-no-brasil-resultados-e-licoes-aprendidas-com-o-estudo-imprep/)

México

Na sequência,  Hamid Vega-Ramírez, do Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de La Fuente Muñiz, do México, e co-pesquisador principal do ImPrEP naquele país, apresentou “Resultados do ImPrEP no México: implementando a PrEP na saúde pública e em serviços comunitários”, traçando um  breve histórico do projeto, desenvolvido junto a um serviço público (Clínica Condesa) e três organizações comunitárias. Informou ser o ImPrEP a primeira grande iniciativa a oferecer PrEP em larga escala no país, alcançando 3.288 pessoas, a maioria com mais de 35 anos, sendo que 64,1% disseram conhecer a PrEP ao chegarem no estudo e 70,1% manifestado vontade de usá-la.

O nível de escolaridade foi mais alto entre aqueles que frequentavam o serviço público, com a maioria tendo completado o ensino secundário. Na Clínica Condesa, a maior parte dos participantes do ImPrEP era composta por homens cis, enquanto nas organizações comunitárias a predominância era de mulheres trans. O engajamento no ImPrEP no México também foi ressaltado por Hamid: quase a totalidade dos que procuraram os centros de saúde foi em busca de PrEP. Entre esses, a maioria relatou ter entre cinco e dez parceiros sexuais, praticar sexo anal passivo sem preservativo e já ter mantido relações sexuais com pessoas que vivem com HIV.

De acordo com o pesquisador, apesar de recentemente ter-se criado uma política pública para a disponibilização da profilaxia no país e uma disposição de usá-la entre as populações-chave do projeto, é necessário aumentar a demanda e criar maior conscientização. Afirmou, ainda, que a distribuição da PrEP em serviços públicos e em organizações comunitárias é viável, o que pode ajudar a aumentar o número de estados fornecedores do medicamento. Ressaltou, ainda,  que participantes com comportamento sexual relacionado ao alto risco de HIV tendem a permanecer no uso da PrEP, embora faltem estratégias para a retenção de mulheres trans, HSH e pessoas com menor grau de escolaridade.  (Mais informações sobre a apresentação, clique aqui http://imprep.org/2022/08/12/simposio-imprep-aids-2022-resultados-do-imprep-no-mexico-implementando-a-prep-na-saude-publica-e-em-servicos-comunitarios/)

Peru

Depois, foi a vez de Carlos Cáceres, da Universidade Cayetano Heredia e pesquisador principal do ImPrEP naquele país, falar sobre “Foco na descontinuidade da PrEP entre os mais vulneráveis ao HIV no Peru: futuros desafios para a América Latina”. Frisou que o HIV na região está concentrado em grupos como HSH e mulheres trans, e que, mesmo com as melhorias dos resultados da cascata de prevenção ao vírus e da implementação da PrEP, a incidência de HIV continua alta, em especial entre os homens. Em seguida, mostrou os principais preditores de descontinuidade da profilaxia na América Latina levantados pelo estudo: peruanos, pessoas de 18 a24 anos, que se autodeclararam brancas, com ensino secundário incompleto, que possuem de cinco a dez parceiros e que praticam sexo anal passivo sem preservativo.

Carlos prosseguiu elencando os principais motivos para a descontinuidade da PrEP no Peru: conhecimentos limitados e informações imprecisas sobre a eficácia da profilaxia, baixo risco autopercebido de HIV, a PrEP vista como alternativa ao preservativo e não como ferramenta de prevenção combinada e a capacidade limitada das unidades de saúde para a oferta da profilaxia. Ressaltou, também, os principais fatores para a soroconversão no Peru: baixo risco autopercebido de HIV, uso intermitente ou incapacidade de aderir à PrEP, falta de apoio social e emocional durante o uso da profilaxia e aumento do número de encontros sexuais após o iniciar o uso da PrEP.

O pesquisador finalizou afirmando que aqueles que mais precisam do medicamento são os mais propensos a falhar no seu uso e que alguns parecem se importar pouco com a possibilidade de soroconversão ao HIV. De acordo com ele, os programas de PrEP na América Latina devem aumentar a conscientização e promover  uma melhor autopercepção de risco do HIV, identificar preditores de descontinuidade e implementar estratégias híbridas da profilaxia nas modalidades oral diária e injetável de longa duração.  (Mais informações sobre a apresentação, clique aqui http://imprep.org/2022/08/12/simposio-imprep-aids-2022-foco-na-descontinuidade-da-prep-entre-os-mais-vulneraveis-ao-hiv-no-peru-futuros-desafios-para-a-america-latina/)

América Latina e Caribe

Em seguida, Hortência Peralta, da Organização Pan-Americana de Saúde, abordou “A situação da PrEP na América Latina e Caribe: implementação, desafios e oportunidades”. A palestrante iniciou fornecendo um panorama das infecções e óbitos por HIV na região, com dados de 2021: cerca de 110 mil novos casos na América Latina e aproximadamente 14 mil no Caribe. Também em 2021, foram cerca de 30 mil mortes causadas pelo vírus na América Latina e aproximadamente 6 mil no Caribe.

Quanto ao número de pessoas recebendo PrEP na região, em 2019 foram19.783 , no ano seguinte esse número subiu para 34.576 e em 2021 para 48.230. No Caribe, 9.672 pessoas tomavam PrEP em 2021. O Brasil é o país recordista de usuários na região, com cerca de 40 mil até o ano passado. Para Hortencia, os principais desafios para a implementação da profilaxia são o desenvolvimento de políticas públicas, o alto custo dos programas, a falta de acesso, a adesão dos usuários e a aceitabilidade do medicamento.

Encerrou afirmando que nenhuma intervenção de prevenção isolada é suficiente para conter novas infecções e o compromisso político para o desenvolvimento da PrEP ainda é necessário na América Latina e no Caribe. Também enfatizou que a ampliação da distribuição de autotestes de HIV e da PrEP são  fundamentais para reduzir o número de novos casos de infecção e que para se avançar com a PrEP na região é essencial normalizar a sua oferta e reduzir o estigma.  (Mais informações sobre a apresentação, clique aqui http://imprep.org/2022/08/12/simposio-imprep-aids-2022-a-situacao-da-prep-na-america-latina-e-caribe-implementacao-desafios-e-oportunidades/)

ImPrEP e CAB-LA

Finalizando o simpósio, a co-pesquisadora principal do ImPrEP, Beatriz Ginsztejn, do INI/Fiocruz, apresentou “O ImPrEP e o estudo de implementação do cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA)”. A pesquisadora iniciou a apresentação exibindo os resultados da fase 2b/3 do estudo HPTN 083,  realizado em 43 locais de todo o mundo, incluindo o Brasil, que reuniu HSH e mulheres trans maiores de 18 anos para comparar a eficácia do CAB-LA e da PrEP oral, baseada no TDF/FTC. A eficácia do CAB-LA foi considerada superior em 66%. Em seguida, a pesquisadora revelou as conclusões do HPTN 084, ensaio promovido junto a mulheres cis HIV negativo, que contou com 1.956 participantes no braço do CAB-LA e 1.942 no grupo do TDF/FTC. As mulheres do grupo do CAB-LA tiveram 88% menos chance de infecção pelo HIV.

A seguir, comentou acerca do estudo do CAB-LA no Brasil a ser conduzido pelo ImPrEP, que buscará produzir dados visando a otimização da sua oferta no país, identificar facilitadores e barreiras para a devida implementação junto ao público dos serviços de saúde e avaliar a eficácia do medicamento na redução do risco de infecção pelo HIV em cenários de vida real.

A população da pesquisa, a ser realizada em seis centros de estudo ImPrEP (Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Salvador, Florianópolis e Manaus), será formada por HSH, pessoas não binárias e pessoas trans com resultado de teste de HIV negativo,  com idades de 18 a 30 anos. Os participantes deverão ter praticado sexo anal passivo  com pelo menos um homem nos seis meses anteriores à inclusão e nunca terem feito uso de nenhum tipo de PrEP. Aqueles que optarem por iniciar a profilaxia injetável de longa duração no mesmo dia, ao invés da modalidade oral diária, vão escolher entre receber lembretes por WhatsApp para as próximas consultas ou apenas agendar e comparecer ao serviço de saúde nas datas programadas.

Finalizando o estudo, os profissionais de saúde responderão a entrevistas aprofundadas para revelar suas experiências na integração do CAB-LA com o serviço de PrEP e vão opinar sobre o papel das ferramentas digitais para aconselhamento e orientação acerca da escolha da modalidade da PrEP. (Mais informações sobre a apresentação, clique aqui http://imprep.org/2022/08/12/simposio-imprep-aids-2022-o-imprep-e-o-estudo-de-implementacao-do-cabotegravir-injetavel-de-longa-duracao/

Pôsteres apresentados pelo ImPrEP na AIDS 2022

“Conscientização sobre I=I entre minorias sexuais e de gênero no Brasil, México e Peru: diferenças de acordo com o status autorreferido de HIV”, com Kelika Konda (Universidade Peruana Cayetano Heredia – UPCH et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Autoteste de HIV para aumentar a demanda por prevenção combinada entre HSH e mulheres trans: um ensaio clínico randomizado e subestudo do projeto ImPrEP”, com Kelika Konda (UPCH) et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Perfis de preferências de modalidades de PrEP entre minorias sexuais e de gênero brasileiras, mexicanas e peruanas”, com com Kelika Konda (UPCH) et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Estudo qualitativo sobre a implementação da PrEP entre HSH, travestis e mulheres trans no Brasil: as perspectivas dos usuários”, com Marcos Benedetti (INI/Fiocruz) et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Comparando as características de HSH segundo estratégia de recrutamento: abordagem on-line como ferramenta útil durante a pandemia de Covid-19”, com Thiago Torres (INI/Fiocruz) et al, do Grupo de Estudos DCE ImPrEP

“Mudanças na consciência e disposição para usar PrEP entre HSH na América Latina entre 2018 e 2021: resultados do projeto ImPrEP”, com  Thiago Torres (INI/Fiocruz) et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Uma avaliação da triagem de risco de HIV e processo de inclusão no projeto de demonstração de PrEP no México – o estudo ImPrEP”, com Heleen Vermandere (Instituto Nacional de Saúde Pública, do México – INSP) et al

“A linha de cuidados de PrEP entre HSH e mulheres trans: ImPrEP México”, com Santiago Aguilera-Mijares (INSP) et al

“PrEP e telemedicina em tempos de Covid-19: experiências de profissionais de saúde no México”, com Alma Cruz Bañares (INSP) et al

“Comportamento sexual e prevalência de HIV entre imigrantes venezuelanos no Peru: um estudo entre HSH e mulheres transavaliados para PrEP”, com Oliver A. Elorreaga (UPCH)  et al, do Grupo de Estudos ImPrEP

“Perspectivas dos profissionais de saúde sobre a adesão à PrEP entre HSH e mulheres trans no Peru: uma análise qualitativa do estudo de demonstração ImPrEP”, com J. P. Jirón Sosa (UPCH) et al

“Quais são os atributos de PrEP mais valorizados? Um experimento de escolha discreta entre HSH e mulheres trans no Peru”, com Oliver A. Elorreaga (UPCH) et al, do Grupo de Estudos ImPrEP