Simpósio ImPrEP/AIDS 2022: Foco na descontinuidade da PrEP entre os mais vulneráveis ao HIV no Peru – futuros desafios para a América Latina
Realizada em Montreal, Canadá, de 29 de julho a 2 de agosto, a 24ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2022) mais uma vez contou com a participação do ImPrEP, por meio da organização do simpósio satélite “Evidências sobre a implementação da PrEP na América Latina: resultados do projeto ImPrEP” e da disponibilização de diversos pôsteres. Um dos trabalhos apresentados no simpósio foi “Foco na descontinuidade da profilaxia pré-exposição (PrEP) entre os mais vulneráveis ao HIV no Peru: futuros desafios para a América Latina”, conduzido por Carlos Cáceres, da Universidade Peruana Cayetano Heredia, e pesquisador principal do ImPrEP naquele país.
No início de sua apresentação, Carlos destacou que o HIV na América Latina está concentrado em grupos vulneráveis, como gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans, e que, apesar de melhorias nos resultados da cascata de prevenção ao vírus e da implementação da PrEP, a incidência continua alta, principalmente entre os homens. Também informou que os jovens, as pessoas com menor poder aquisitivo, os participantes com menor grau de escolaridade e aqueles que dizem realizar trabalho sexual são os mais afetados pelo HIV. Outro dado importante mostrado pelo pesquisador foi a diminuição do número de pessoas que relataram o uso de preservativo com regularidade.
Em seguida, foram exibidos os principais preditores de descontinuidade do uso da PrEP na América Latina. De acordo com o estudo, peruanos, pessoas com idade entre 18 e 24 anos, brancos, com ensino secundário incompleto, que possuem de cinco a dez parceiros, que procuraram as unidades de saúde em busca da profilaxia e que praticam sexo anal passivo sem preservativo são os mais propensos a descontinuar a profilaxia. Em consequência, os principais preditores de soroconversão na região são participantes nascidos no Peru, com idade entre 18 e 24 anos, pessoas com ensino secundário incompleto, aqueles que fazem sexo anal passivo sem preservativo, profissionais do sexo e mulheres trans.
E por que o Peru é considerado um dos principais preditores de descontinuidade da profilaxia e de soroconversão? Segundo Carlos, o país incluiu no estudo a maior proporção de jovens na faixa etária de 18 a 24 anos, o maior número de mulheres trans e a menor quantidade de participantes que procuraram os centros de saúde em busca de PrEP. Outro fator lembrado pelo pesquisador foram as severas restrições impostas pelo governo peruano durante a pandemia de Covid-19.
Carlos prosseguiu elencando os principais motivos para a descontinuidade da PrEP no Peru. Segundo ele, podem ser destacados os conhecimentos limitados e informações imprecisas sobre a eficácia da profilaxia, a baixa autopercepção de risco para o HIV, a PrEP vista como alternativa ao preservativo e não como ferramenta de prevenção combinada, a falta de apoio social e emocional durante o uso da profilaxia e a capacidade limitada das unidades de saúde para oferta da PrEP.
Também destacou os principais fatores para a soroconversão no Peru: baixo risco autopercebido de HIV, principalmente entre os jovens; uso intermitente ou incapacidade de aderir à PrEP; falta de apoio social e emocional durante o uso da profilaxia; e aumento do número de encontros sexuais após o iniciar o uso da PrEP.
Em suas palavras finais, o pesquisador afirmou que aqueles que mais precisam do medicamento são os mais propensos a falhar no uso da PrEP e que alguns parecem se importar pouco com a possibilidade de soroconversão ao HIV. De acordo com ele, os programas de PrEP na América Latina devem aumentar a conscientização e promover uma melhor autopercepção de risco do HIV, identificar preditores de descontinuidade e implementar estratégias híbridas da profilaxia nas modalidades oral diária e injetável de longa duração.