2023 Notícias PrEP: temas gerais

Simpósio satélite do ImPrEP CAB Brasil é destaque na IAS 2023

Mais uma vez, a Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV cumpriu o desafio de apresentar os trabalhos científicos mais atuais e de ponta em relação ao tema no mundo. Em sua 12ª edição, realizada de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, na Austrália, reuniu presencial e virtualmente cerca de 5 mil pessoas, entre cientistas, pesquisadores, estudiosos e interessados, por meio de 1.400 trabalhos disponibilizados.

Como já virou tradição, o projeto ImPrEP CAB Brasil esteve presente na conferência, tendo como principal destaque de sua programação a organização do simpósio satélite “Preparação para a implementação da PrEP com cabotegravir injetável de longa duração – o projeto ImPrEP CAB Brasil”.

O simpósio contou com as participações de Valdiléa Veloso, pesquisadora principal da etapa inicial do projeto ImPrEP (modalidade oral), que mediou o encontro, Beatriz Grinsztejn, pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil, Thiago Torres, pesquisador do Instituto de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Tatianna Alencar, analista de Políticas Sociais do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis, do Ministério da Saúde do Brasil, e Omar Sued, assessor regional de Assistência e Tratamento ao HIV da Organização Panamericana de Saúde, em Washington, para a América Latina e Caribe.

Após informar o objetivo do simpósio e dar as boas-vindas a todos os participantes, Valdiléa passou a palavra à Tatianna, que ressaltou os resultados do projeto e ratificou a PrEP oral como uma ferramenta fundamental para a proteção de minorias sexuais e de gênero. Destacou que a profilaxia na modalidade injetável de longa duração pode mudar de maneira significativa o cenário da epidemia de HIV não só no país como na América Latina.

A representante do Ministério da Saúde lembrou, ainda, a importância da PrEP como uma aliada de populações mais vulneráveis ao vírus, como gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transgênero, na luta contra o estigma e a discriminação. De acordo com ela, além desses públicos-chave do ImPrEP, pessoas negras e de baixa renda foram outras a se beneficiarem dessa importante política pública de saúde.

Soroincidência

Dando prosseguimento, Thiago iniciou a apresentação do “Estudo de soroincidência do ImPrEP”, realizado no Brasil e no Peru, onde os casos de HIV estão concentrados nas populações de HSH e de mulheres trans. Informou que, ao contrário do Brasil, no Peru a PrEP só foi reconhecida como uma política pública de saúde recentemente.

O pesquisador ressaltou que o estudo visava a investigar infecções recentes pelo HIV e estimular a testagem do vírus em minorias sexuais e de gênero. A pesquisa reuniu, de janeiro de 2021 a maio de 2022, 6.899 participantes, sendo 4.586 brasileiros e 2.313 peruanos, todos maiores de 18 anos e que realizaram teste para HIV e infecções sexualmente transmissíveis na inscrição do estudo. No total, 86% dos voluntários eram HSH, 11% mulheres trans e 3% pessoas não-bináries. A média de idade era de 27 anos e 65% tinham menos de 30. Setenta e dois por cento possuíam o ensino secundário incompleto e 79% eram pessoas de baixa renda.

No geral, a prevalência do HIV durante o período de acompanhamento do estudo foi de 11,4% (18% no Peru e 8% no Brasil), com o registro de 137 infecções recentes (73 no Peru e 64 no Brasil). Como comparação, 24 brasileiros e 62 peruanos soroconverteram para o HIV durante todo o projeto ImPrEP (de 2018 a 2021). Ser mais jovem, entre 18 e 24 anos, foi altamente associado a infecções recentes. Os HSH sofreram mais soroconversões do que as mulheres trans e pessoas não-binárias. Os negros foram mais infectados do que os pardos/mestiços e brancos. (Mais informações sobre a apresentação acesse http://imprep.org/2023/08/03/simposio-imprep-na-ias-2023-apresentando-os-resultados-do-estudo-de-soroincidencia-por-hiv/

Thiago também fez uma breve explanação com os principais resultados do trabalho “Preferências de PrEP no Brasil – Estudo de Escolhas Discretas”, que seria apresentado virtualmente por Claudia Pereira, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz,  que acabou não podendo participar. O pesquisador, que também fez parte da equipe que conduziu o estudo, afirmou que o objetivo era avaliar as preferências relativas à PrEP entre minorias sexuais e de gênero do país e identificar atributos relacionados à adesão à profilaxia.

Após a realização de entrevistas qualitativas com HSH, mulheres trans e pessoas não-bináries, os pesquisadores concluíram que a PrEP injetável de longa duração era a preferida entre os participantes e que a maior proteção contra o HIV e a ausência de reações adversas foram os atributos mais importantes nas escolhas relativas à profilaxia.

CAB-LA

Em seguida, Beatriz fez a explanação intitulada “Estudo ImPrEP CAB Brasil”. Iniciou frisando que os brasileiros estão entre os maiores usuários de PrEP oral no mundo e destacando a importância da fase inicial do projeto ImPrEP, realizado no Brasil, Peru e México, voltado à implementação dessa modalidade da profilaxia. 

Após essa introdução, Beatriz passou a apresentar informações relativas ao estudo com o cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) no país. O objetivo é descrever a escolha inicial de PrEP (oral ou injetável), a captação, a adesão às visitas das injeções, as trocas e as descontinuidades entre os participantes. Outro objetivo é gerar evidências para servirem de subsídios para a formatação de políticas públicas de implementação da PrEP injetável como mais uma alternativa de prevenção ao HIV via SUS, em especial para as minorias sexuais e de gênero.

O estudo estima a participação de 1.200 indivíduos HSH, travestis, pessoas trans ou não-bináries, HIV negativos, entre 18 e 30 anos de idade e que estejam em busca de PrEP pela primeira vez. Para isso, serão disponibilizados seis serviços públicos de saúde em seis cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Salvador, Florianópolis e Manaus).

O desenvolvimento de campanhas e materiais para mHealth, uma ferramenta de autoaprendizagem sobre opções de PrEP e cuidados de saúde, desenvolvida em forma de aplicativo, foi o tema seguinte abordado pela pesquisadora. Segundo ela, foram produzidos vídeos curtos, similares aos disponibilizados na rede social Tik Tok, com uma linguagem simples e adaptada às minorias sexuais e de gênero.

Beatriz discorreu ainda sobre as análises qualitativas e o mapeamento de processos para cada centro integrante do estudo, bem como acerca das capacitações presenciais e virtuais já realizadas com as equipes. (Mais informações sobre a apresentação, acesse http://imprep.org/2023/08/03/simposio-imprep-na-ias-2023-apresentando-o-imprep-cab-brasil/

O simpósio se encerrou com a participação de Omar, que parabenizou o Brasil por ser o primeiro país da América Latina a implementar um programa de PrEP, destacando a oferta da profilaxia no mesmo dia da inscrição do participante, o que pode ter um impacto positivo nas estatísticas de HIV no país.

O pesquisador se disse feliz por ver que Peru e México estão no mesmo caminho, com a popularização da profilaxia entre as minorias sexuais e de gênero. Comemorou a chegada da PrEP injetável e informou que outros países da região, como Argentina, Guatemala e República Dominicana, já vêm trabalhando com programas de implementação da profilaxia. Finalizou alertando que a prevenção a outras infecções sexualmente transmissíveis, como a gonorreia, sífilis e clamídia, também deve ter prioridade na América Latina.

Confira, também, a apresentação oral e os pôsteres do ImPrEP CAB Brasil na IAS 2023:

– Disparidades raciais na incidência de HIV e não adesão à PrEP entre HSH e mulheres trans usando PrEP oral no Brasil: o estudo ImPrEP http://imprep.org/2023/08/03/estudo-do-imprep-investiga-disparidades-raciais-entre-hsh-e-mulheres-transexuais-do-brasil/

– Características das soroconversões de HIV no ImPrEP, um grande estudo de implementação de PrEP na América Latina http://imprep.org/2023/08/03/imprep-analisa-soroconversoes-para-o-hiv-entre-jovens-hsh-e-mulheres-transgenero-na-america-latina/

– Mapeamento de processos para apoiar a oferta de CAB-LA como PrEP nos sistemas públicos de saúde: o estudo ImPrEP CAB Brasil http://imprep.org/2023/08/03/imprep-cab-brasil-avalia-mapeamento-de-processos-visando-implementacao-da-prep-injetavel-no-brasil/

– Fatores associados à incidência de infecções sexualmente transmissíveis entre HSH e mulheres trans em uso da PrEP oral na América Latina: o estudo ImPrEP. http://imprep.org/2023/08/03/incidencia-de-ist-entre-hsh-e-mulheres-transgenero-e-tema-de-estudo-imprep/