O número de casos de HIV continua a aumentar entre jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres transgênero na América Latina. Estudo conduzido por Brenda Hoagland, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e outros colaboradores do estudo ImPrEP*, analisou as características de soroconversões por HIV no Brasil, Peru e México. O trabalho foi apresentado em forma de pôster na 12ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023),  realizada, de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, Austrália.

Foram incluídos na análise HSH e mulheres trans com diagnóstico negativo para o HIV, maiores de 18 anos e que relatassem pelo menos uma prática de risco para o vírus. No mesmo dia da inscrição, os participantes receberam um suprimento da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, na modalidade oral, suficiente para 30 dias.

De fevereiro de 2018 a junho de 2021, o estudo ImPrEP analisou 9.509 voluntários HSH e mulheres trans (3.928 do Brasil, 3.288 do México e 2.293 do Peru). Ao todo, 76% eram jovens (de 18 a 30 anos), 82,7% não brancos e 71,3% tinham concluído pelo menos o ensino médio.

As visitas de acompanhamento foram agendadas para quatro semanas após a inscrição e trimestralmente a partir de então. O teste rápido de HIV foi realizado em todas as visitas. Compararam-se características (na inscrição) e comportamentos (na última visita antes da soroconversão) dos participantes, por meio de testes qui-quadrado ou testes de Kruskal Wallis.

A média de parceiros sexuais durante o período de acompanhamento foi de cinco. No total, 70,2%, 92,2% e 85,6% dos indivíduos relataram sexo anal receptivo sem preservativo, uso inconsistente de preservativo e adesão incompleta à PrEP, respectivamente.

Cento e quatro participantes foram diagnosticados com HIV. A média de dias entre a primeira dispensação de PrEP e o diagnóstico do vírus foi de 360: maior no Brasil (541 no Brasil) e menor no México (242). A carga viral média foi de 12.275 cópias/ml: maior no Peru (50.100 cópias/ml) e menor no México (3.680 cópias/ml).

Os autores observaram baixa adesão à PrEP entre os HSH e as mulheres trans que soroconverteram para o HIV durante a análise. Segundo eles, a profilaxia na modalidade injetável de longa duração pode ser uma estratégia adequada para superar as barreiras de adesão, principalmente entre jovens HSH e mulheres trans na América Latina.

*Autores do trabalho:

Brenda Hoagland (1), Carlos Caceres (2), Ronaldo Ismerio Moreira (1), Kelika Konda (2), Hamid Vega-Ramirez (3), Iuri Leite (4), Juan Guanira (3), Sergio Bautista-Arredondo (5), Heleen Vermandere (5), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (6), Valdiléa Veloso (1), Thiago Torres (1) e Beatriz Grinsztejn (1).

1 – Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

2 – Universidade Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru

3 – Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de la Fuente Muñiz, Cidade do México, México

4 – Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

5 – Instituto Nacional de Saúde Pública, Cuernavaca, México

6 – Ministério da Saúde, Brasília, Brasil