HIV, IST e Outros PrEP: temas gerais

Simpósio ImPrEP na IAS 2023: apresentando os resultados do estudo de soroincidência por HIV

“Preparação para a implementação da PrEP com cabotegravir injetável de longa duração – o projeto ImPrEP CAB Brasil“ foi o título do simpósio satélite e principal atração do projeto na12ª Conferência da International AIDS Society (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, na Austrália.

Entre os trabalhos apresentados no simpósio, estavam os principais resultados do “Estudo de soroincidência do ImPrEP”, conduzido por Thiago Torres, pesquisador do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, referente à etapa inicial do projeto que, de 2018 a 2021, dedicou-se à implementação da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na modalidade oral no Brasil, Peru e México.

Thiago iniciou a explanação afirmando que os casos de HIV no Brasil e no Peru, países onde foi realizado o estudo de incidência, estão concentrados nas populações de gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e de mulheres transgênero e informou que, ao contrário do Brasil, no Peru a PrEPsó foi formalizada como uma política pública de saúde recentemente.

O pesquisador ressaltou que o estudo buscava investigar infecções recentes pelo HIV e estimular a testagem para detecção do vírus em minorias sexuais e de gênero dos dois países. A pesquisa reuniu 6.899 participantes, sendo 4.586 brasileiros e 2.313 peruanos, todos maiores de 18 anos e que realizaram teste para o HIV e infecções sexualmente transmissíveis na inscrição do estudo.

No total, 86% dos voluntários eram HSH, 11% mulheres trans e 3% pessoas não-bináries. A média de idade era de 27 anos e 65% tinham menos de 30. Setenta e dois por cento possuíam o ensino secundário incompleto e 79% eram pessoas de baixa renda.

A pesquisa aconteceu em seis cidades e seis centros de estudos brasileiros e em sete cidades e 12 centrosde estudos peruanos. Os critérios de exclusão foram: estar em uso da PrEP ou de medicamentos antirretrovirais, ter o sexo feminino atribuído no nascimento, ser homem cisgênero que faz sexo com mulheres cisgênero e ter um diagnóstico positivo de HIV. Utilizaram-se testes de HIV de quarta geração, com os resultados sendo confirmados por um segundo teste rápido de modelo diferente.

Incidência

De janeiro de 2021 a maio de 2022, a incidência do vírus foi analisada de acordo com o país, a idade, a raça e o gênero dos participantes. Foram usados modelos multivariáveis de regressão logística para se estimar fatores associados a infecções recentes pelo HIV e o número de infecções evitadas devido ao uso da profilaxia durante o período de acompanhamento.

No total, 839 pessoas (501 no Brasil e 338 no Peru) nunca haviam sido testadas para o HIV e a maioria (1.291 no Brasil e 813 no Peru) não realizava o teste há mais de 12 meses. Os principais motivos para não testar eram o receio de um resultado positivo e o medo do estigma e da discriminação. Seiscentos e vinte e um participantes (607 no Brasil e 14 no Peru) tinham tomado a profilaxia pós-exposição (PEP) ao HIV nos 12 meses anteriores ao estudo e 353 (210 no Brasil e 143 no Peru) haviam usado a PrEP nos últimos seis meses anteriores à pesquisa.

No geral, a prevalência do HIV durante o período de acompanhamento do estudo foi de 11,4% (18% no Peru e 8% no Brasil), com o registro de 137 infecções recentes (73 no Peru e 64 no Brasil). Como comparação, 24 brasileiros e 62 peruanos soroconverteram para o HIV durante todo o projeto ImPrEP (de 2018 a 2021). Ser mais jovem, entre 18 e 24 anos, foi altamente associado a infecções recentes. Os HSH sofreram mais soroconversões do que as mulheres trans e as pessoas não-bináries. Os negros apresentaram maior número de infecções do que os pardos/mestiços e brancos.

Segundo Thiago, é possível afirmar que a alta prevalência do HIV e as infecções recentes pelo vírus são um fardo entre as minorias sexuais e de gênero do Brasil e do Peru. O pesquisador acrescentou que no Peru a nova política de prevenção combinada, incluindo a PrEP, pode alterar o cenário da epidemia. Finalizou afirmando que a PrEP na modalidade injetável de longa duração deve contribuir para a redução dos casos de HIV na região, especialmente entre HSH e mulheres trans.