Estudo do ImPrEP investiga disparidades raciais entre HSH e mulheres transexuais do Brasil
O acesso aos cuidados de saúde pode afetar a aceitação, a adesão e a persistência na profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, especialmente entre minorias raciais e étnicas. Negros brasileiros historicamente apresentam piores resultados de saúde em comparação com pessoas brancas. Por isso, uma pesquisa liderada por Lucilene Freitas, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI – Fiocruz) e pelo Grupo de Estudos ImPrEP*, analisou a incidência de HIV e fatores relacionados a não adesão à PrEP entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transgênero do Brasil, de acordo com a raça autorreferida. O estudo foi apresentado oralmente na 12ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada, de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, Austrália.
Para essa análise foram usados os dados da primeira etapa do estudo ImPrEP (voltado à oferta da PrEP oral), que inscreveu 9.509 HSH e mulheres trans do Brasil, Peru e México, de fevereiro de 2018 ajunho de 2021. Desse total, foram selecionados 3.928 voluntários que frequentavam 14 clínicas localizadas em 11 cidades brasileiras.
Os pesquisadores calcularam a incidência de HIV por 100 pessoas-ano em indivíduos negros, pardos e brancos utilizando o modelo de Poisson. Criaram-se duas medidas de regressão logística (preta/parda e branca) para identificar fatores associados a não adesão à profilaxia.
Entre os inscritos, 47% eram brancos, 36% pardos e 15% negros. A taxa de incidência de HIV foi maior entre negros em comparação com pardos e brancos. A não adesão à PrEP foi maior entre negros (26,2%) em relação a pardos (24,2%) e brancos (18,7%). As travestis e mulheres trans e os jovens tiveram mais chances de não adesão à profilaxia em todas as raças. Entre os participantes negros e pardos, aqueles com menos escolaridade e que praticavam sexo transacional tiveram menor propensão à adesão.
Segundo os autores, a maior incidência de HIV e a menor adesão à PrEP entre negros e pardos evidenciam as disparidades raciais e o impacto do racismo nos resultados de saúde. A implementação de políticas públicas para mitigar as desigualdades raciais e sociais no Brasil é urgente, a fim de aumentar a equidade em saúde e promover justiça social.
*Autores do trabalho:
Lucilene Freitas (1), Carolina Coutinho (1), Josias Freitas (1), Tony Santos (1), Ada Alves (1), Mayara Secco (1), Ronaldo Moreira (1), Igor Leite (1), Brenda Hoagland (1), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (2), Thiago Torres (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1)
- Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
- Ministério da Saúde, Brasília, Brasil.