Estudo qualitativo sobre a implementação da PrEP entre HSH, travestis e mulheres trans no Brasil: as perspectivas dos usuários
Em trabalho conduzido por Marcos Benedetti, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros colaboradores do Grupo de Estudos ImPrEP*, “Estudo qualitativo sobre a implementação da PrEP entre HSH, travestis e mulheres trans no Brasil: as perspectivas dos usuários” foi apresentado como pôster na 24ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2022), realizada de 29 de julho a 2 de agosto em Montreal, Canadá. A análise é um desdobramento do subestudo “Avaliação qualitativa da implementação da PrEP no Brasil: ImPrEP stakeholders”.
A epidemia de HIV/aids persiste no Brasil entre populações-chave, como gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres trans. Mudanças nas estratégias de prevenção recentes, com a incorporação da profilaxia pré-exposição (PrEP), criam desafios e oportunidades para sua implementação, como também para o conhecimento do usuário, percepção e acesso à PrEP oral diária. Além disso, a adoção e a continuidade no uso da profilaxia são de preocupação global enquanto barreiras de acesso para essas duas populações.
Entre 2018 e 2019, foi realizado um estudo qualitativo, baseado em 71 entrevistas em profundidade, entre as quais 20 usuários de PrEP (16 HSH e quatro mulheres trans) em seis cidades de todas as cinco regiões do Brasil. Os eixos centrais analisados foram: conhecimento da PrEP, acessibilidade, experiências dos usuários e interação com os serviços públicos de saúde.
A idade dos entrevistados variou de 26 a 47 anos, com a maioria relatando ter obtido conhecimento acerca da PrEP por meio de pares, tecnologias de comunicação/internet, estudos de implementação e profissionais de saúde. Os participantes expressaram preocupações relacionadas à disseminação de informações sobre a profilaxia, o que aponta a necessidade de uma linguagem mais acessível para aumentar o conhecimento sobre PrEP entre as populações-chave.
Em termos de acessibilidade, a falta de disponibilidade do serviço e as dificuldades para iniciar a PrEP oral no mesmo dia nos espaços públicos de saúde foram relatadas como preocupações. Em relação ao uso da profilaxia, todos os entrevistados enfatizaram a sua importância para a prevenção do HIV e do prazer sexual, afirmaram a facilidade na ingestão do comprimido e relataram que os serviços de PrEP reforçavam a importância do autocuidado e a prevenção de outras infecções sexualmente transmissíveis.
Compreender as experiências dos usuários da PrEP e sua interação com os serviços de saúde, contexto socioeconômico, subjetividades e especificidades culturais são fundamentais para uma política efetiva de implementação da profilaxia, apontam os autores do estudo. Além disso, é preciso que a atuação dos profissionais de saúde (subjetividades, valores e crenças) atenda às preocupações das populações-chave. Ambientes de serviços de saúde livres de estigma, comunicação direcionada, mobilização da comunidade e apoio de pares são estratégias percebidas como facilitadores eficazes para o acesso, vinculação e retenção aos serviços de PrEP e para a sua devida implementação na América Latina e no mundo.
*Autores do trabalho:
Marcos Benedetti (1),Ximena Bermúdez (3), Alcinda Godoi (3), Ivia Maksud (4), Bruno Kauss (5), Thiago Torres (1), Brenda Hoagland (1), Beatriz Grinsztejn (1), Valdiléa Veloso (1), Cristina Pimenta (2), do Grupo de Estudos ImPrEP
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Rio de Janeiro, Brasil
(2) Departamento de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Brasília, Brasil
(3) Laboratório de Antropologia da Saúde, da Universidade de Brasília, Brasil
(4) Instituto Fernandes Figueiras/Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(5) Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre (RS), Brasil