A linha de cuidados de PrEP entre HSH e mulheres trans: ImPrEP México
Para ter sucesso, os programas de profilaxia pré-exposição (PrEP) precisam promover níveis adequados de conscientização, aceitabilidade, adesão e retenção para o uso da profilaxia entre pessoas com alto risco para o HIV. Essa é a principal conclusão do estudo “A linha de cuidados de PrEP entre HSH e mulheres trans: ImPrEP México”, apresentado em forma de pôster na 24ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2022), realizada de 29 de julho a 2 de agosto em Montreal, Canadá.
De junho a julho de 2020, foram realizadas entrevistas semiestruturadas on-line – em trabalho conduzido por Santiago Aguilera-Mijares, do Instituto Nacional de Saúde Pública do México e outros colaboradores* – entre as duas populações-chave do estudo de demonstração ImPrEP no México: gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans que fossem usuários, ex-usuários e usuários em potencial (avaliados, mas não inscritos) de PrEP. Por meio de amostragem intencional, esses perfis foram equilibrados por identidade sexual, idade e nível de escolaridade. As entrevistas foram submetidas a uma análise de conteúdo direcionada para identificar os fatores por etapa da linha de cuidados da PrEP.
Foram entrevistados dez usuários, seis ex-usuários e oito potenciais usuários (14 HSH e 10 mulheres trans). Sobre conscientização acerca da profilaxia, os HSH relataram ter conhecimento sobre a PrEP e o ImPrEP durante o teste de HIV. As mulheres trans apontaram que obtiveram conhecimento principalmente por meio de palestras informativas específicas, mas que eram insuficientes para esclarecer todas as dúvidas.
Em termos de aceitabilidade, os participantes queriam iniciar a PrEP principalmente por conta da proteção ao HIV durante comportamentos sexuais de risco. No entanto, os usuários em potencial expressaram dúvidas sobre aderir à profilaxia devido a seus possíveis efeitos colaterais, como, por exemplo, interagir com o tratamento hormonal, no caso das mulheres trans.
No tocante à inscrição, os usuários em potencial relataram ter perdido a visita inicial por motivos variados (trabalho/escola, distância, esquecimento ou Covid-19) e não sabiam como reagendar. Quanto à adesão, usuários e ex-usuários em geral relataram tomar a PrEP adequadamente, mas algumas barreiras foram citadas, como medo de efeitos colaterais, mudanças de rotina e estigma relacionado à profilaxia.
Já em relação à retenção, ex-usuários descontinuaram os serviços oferecidos pelo ImPrEP mesmo sem ter reduzido os riscos de infecção pelo HIV, por temerem os efeitos colaterais da medicação e por dificuldades em manter suas consultas trimestrais.
Entre as conclusões, a constatação de que as barreiras da linha de cuidados da PrEP devem ser abordadas de forma eficaz para a devida expansão do seu uso no México. Atividades de conscientização são cruciais para alcançar pessoas que não frequentam os serviços de saúde e para dissipar os mitos em torno da profilaxia, especialmente junto às mulheres trans, pois equívocos podem diminuir a aceitabilidade, a adesão e a retenção. Os serviços de PrEP também devem oferecer um cronograma mais flexível para facilitar a aceitação e a retenção.
*Autores do trabalho:
Santiago Aguilera-Mijares, Araczy Martínez-Dávalos, Sergio Bautista-Arredondo e Heleen Vermandere, do Instituto Nacional de Saúde Pública, da Cidade do México, México