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HIVR4P: Beatriz Grinsztejn aborda implementação do CAB-LA no simpósio da IAS

A pesquisadora principal do ImPrEP CAB Brasil e presidente eleita da International AIDS Society para o biênio 2024-2026, Beatriz Grinsztejn, foi uma das participantes do simpósio virtual HIVR4P, realizado pela IAS em 4 de outubro de 2023, visando debater a implementação e o lançamento da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV injetável de longa duração baseada no cabotegravir (CAB-LA). A outra palestrante foi Imelda Mahaka, diretora executiva do Pangea Zimbabwe AIDS Trust, tendo o encontro contado com mediação de Mitchell Warren, diretor executivo da AVAC, organização não-governamental que trabalha para acelerar o desenvolvimento ético e a oferta global de opções para prevenção do HIV.

Com o tema “CAB-LA para mulheres cisgênero e transgênero, e gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH)”, Beatriz foi a primeira se apresentar. A pesquisadora iniciou lembrando que, até o final de 2022, havia mais de 39 milhões de pessoas vivendo com HIV em todo o mundo. Reforçou que, apesar da introdução da PrEP e de outras ferramentas de prevenção ao vírus, o controle da epidemia ainda está longe de ser considerado viável.

Em seguida, Beatriz apresentou dados dos estudos HPTN 083, realizado com HSH cis e mulheres trans de diversos países do mundo, e HPTN 084, que contou com a participação exclusiva de mulheres cis na África Subsaariana. Destacou que ambos os estudos comprovaram uma maior eficácia do CAB-LA na prevenção do HIV em comparação com o tenofovir/emtricitabina (TDF/FTC), formulação encontrada na PrEP oral diária.

“Nesses dois ensaios clínicos, a PrEP injetável de longa duração diminuiu em até 89% a incidência do HIV em comparação com a PrEP oral. Entre os HSH, uma das populações mais expostas ao vírus, essa redução foi de 66%”, informou Beatriz. A pesquisadora prosseguiu informando que nos dois estudos não houve efeitos adversos graves, com o principal relato sendo irritações leves ou moderadas nos locais das injeções. Também apontou que as raras infecções pelo HIV ocorridas no HPTN 083 estão sendo estudadas em profundidade.

Enfatizou a importância do HPTN 084, já que o continente africano é a região mais afetada pelo HIV em todo o planeta. “Claro que os dados iniciais são promissores, pois houve uma redução significativa no número de infecções pelo vírus durante o estudo. Mas não podemos perder de vista que ainda temos um longo caminho a percorrer antes de pensar no controle da epidemia no continente”, afirmou. Beatriz ainda mostrou um breve panorama de todos os projetos de implementação do CAB-LA que estão em andamento ao redor do mundo.

A pesquisadora concluiu fazendo algumas considerações sobre a PrEP injetável. Afirmou que o CAB-LA é eliminado mais rapidamente do organismo de pessoas nascidas com o sexo masculino do que naquelas nascidas com o sexo feminino, ressaltou que a substância mostrou-se altamente eficaz em todas as populações nas quais foi testada, informou a sua segurança para gestantes e mulheres que estão em processo de amamentação, e reforçou a urgência da fabricação do medicamento em sua forma genérica para reduzir custos e ampliar o seu alcance entre os mais vulneráveis.

Anel vaginal

Falando sobre “Ampliação da oferta de CAB-LA e do anel vaginal de dapivirina na perspectiva da sociedade civil”, Imelda deu prosseguimento ao evento. Enfatizou que a prevalência do HIV na África Subsaariana é elevada e que o vírus atinge desproporcionalmente as mulheres mais jovens. Em seguida, lamentou que a distribuição de PrEP na região não seja equânime e lembrou as dificuldades enfrentadas pela população local para alcançar uma adesão adequada ao medicamento.

Imelda continuou cobrando maior envolvimento dos governos na implementação da PrEP injetável e do anel vaginal de dapivirina. “Essas duas ferramentas podem representar um grande avanço no combate ao HIV na África. É fundamental que os governos acelerem os processos de registro dessas substâncias, especialmente do CAB-LA”. Também ressaltou a importância da produção regional de formulações genéricas para que os medicamentos cheguem com maior rapidez às populações mais vulneráveis.

No encerramento do simpósio, Imelda fez um apelo aos pesquisadores de todo o mundo: “Vamos trabalhar para desenvolver novas ferramentas de prevenção ao HIV, mas enquanto esses produtos não chegam, precisamos lutar com as armas que temos hoje. O CAB-LA e o anel vaginal são capazes de evitar milhões de infecções ao redor do planeta, basta que a gente consiga difundi-los para o máximo de pessoas possível”.