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Live do ImPrEP CAB Brasil faz balanço da participação do projeto na IAS 2023

Para fazer um balanço da sua participação na 12ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada, de 23 a 26 de julho, na Austrália, e apresentar os principais resultados do evento, o ImPrEP CAB Brasil realizou, em 5 de setembro, a live “Ecos do ImPrEP CAB Brasil na IAS 2023”, em parceria com a Aliança Nacional LGBTI+, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e o Grupo Arco-Íris.

O bate-papo virtual contou com as participações de Tatianna Alencar, analista de Políticas Sociais e assessora especialista em Prevenção do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e Infecções Sexualmente Transmissíveis do Ministério da Saúde, Mayara Secco, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e Keila Simpson, coordenadora comunitária do ImPrEP CAB Brasil para a população trans e presidenta da Antra. A mediação ficou a cargo de Júlio Moreira, coordenador comunitário do ImPrEP CAB Brasil para a população HSH, e Luciana Kamel, assessora de educação comunitária do projeto.

Tatianna foi a primeira a falar: “Fomos à Austrália para conhecer os avanços referentes à prevenção do HIV e descobrir como podemos transformar esses avanços em políticas públicas que beneficiem principalmente as populações mais vulneráveis”. Em seguida, Keila afirmou: “Como membro da sociedade civil, fui ao congresso com um olhar mais crítico. Minha presença foi importante para que os participantes pudessem ter o ponto de vista de uma travesti”. 

Tatianna prosseguiu falando sobre os desafios da oferta da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV: “Temos que parar de falar em medo para falar de esperança e saúde. É para isso que serve a profilaxia. Na IAS, reforçamos pontos fundamentais, como a aceitabilidade da PrEP injetável de longa ação verificada em estudos, a importância da capacitação de profissionais de saúde para ofertar o medicamento e o reforço do conceito de indetectável = intransmissível (I = I), por exemplo. Temos que acabar de uma vez por todas com o estigma enfrentado pelas pessoas que vivem com HIV”.

No prosseguimento da live, Mayara falou sobre a experiência de comparecer ao seu primeiro congresso da IAS: “O encontro foi ótimo para a ampliação do diálogo entre pesquisadores e organizações da sociedade civil e movimentos sociais. A participação do ImPrEP CAB Brasil serviu principalmente para que a gente pudesse ratificar os resultados dos estudos envolvendo a PrEP oral e apresentar os objetivos da nova etapa do projeto, que inclui a modalidade injetável” (os trabalhos do projeto na conferência estão em https://imprepemrede.wixsite.com/imprepemrede18).

Tatianna completou: “Conteúdos e trabalhos muito importantes, como os desafios enfrentados por pessoas que adquiriram o HIV durante a primeira fase do estudo ImPrEP em virtude de uma adesão imperfeita, fatores associados aos diagnósticos de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e disparidades dos resultados do projeto em relação a raça e cor. É importante que negros e brancos tenham o mesmo acesso ao medicamento”.

Representatividade LGBTI+

Keila lamentou a falta de representatividade da comunidade LGBTI+ na conferência. “Fiquei frustrada já na cerimônia de abertura. Não havia diversidade alguma. Sempre falo que nós, mulheres trans, temos que ocupar todos os lugares de destaque que, muitas vezes, nos são negados. Quanto à participação do ImPrEP, achei importantíssima. Todos os estudos apresentados foram de alta relevância. Lamento apenas a escassez de pesquisas envolvendo a nossa população. Eu, particularmente, também senti falta de mais trabalhos sobre IST”.

Júlio aproveitou a deixa de Keila para perguntar à Mayara sobre a doxyPEP, medicamento à base de doxiciclina, que funciona como profilaxia contra IST bacterianas: “A doxyPEP foi um assunto bastante abordado no congresso. A boa notícia é que existem estudos muito promissores e outros em andamento. Mas é importante destacar que, por enquanto, as pesquisas ainda são insuficientes”, respondeu a médica.

Luciana quis saber das palestrantes quais avanços trazidos pela conferência já podem fazer parte do dia a dia em curto ou médio prazo. Tatianna respondeu: “Em curto prazo, a expansão da PrEP oral, principalmente para os adolescentes, um dos públicos que menos utiliza a profilaxia. Em médio e longo prazos, a implementação da PrEP injetável de longa duração. É para isso que continuaremos trabalhando nos próximos anos”.

Mayara ratificou: “Concordo no que diz respeito à PrEP oral. O alcance dessa modalidade tem que ser expandido. Além disso, tenho muita esperança que, em médio prazo, a gente consiga comprovar a eficácia da doxyPEP na prevenção de IST como clamídia e sífilis. Outro ponto fundamental é avançar na questão da equidade nos serviços públicos de saúde. O SUS precisa dar voz às minorias”.

Ficou a cargo de Keila encerrar o encontro. “Quanto aos avanços científicos, não tenho nada a acrescentar. A PrEP oral, a PrEP injetável e a doxyPEP são importantes ferramentas de prevenção que estão no nosso horizonte. Nesse aspecto, sou otimista. Mas no que diz respeito aos avanços da sociedade civil, não posso dizer o mesmo. Voltei do congresso sem observar nada que a gente possa implementar agora. Isso prova que ainda temos um longo caminho a percorrer na luta por nossos direitos”.

A live pode ser acessada no Canal ImPrEP neste site.