Estudo avalia cuidados e proteção ao HIV entre jovens mulheres transgênero no Brasil
Atualmente, os jovens são o principal grupo etário que apresenta um aumento no número de casos de HIV. Especialmente em relação a jovens mulheres transgênero em países de baixa e média renda, a prevenção à infecção e as necessidades de cuidados são pouco avaliadas apesar do alto risco que essa população enfrenta.
Estudo conduzido por Emilia Jalil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz,e outros colaboradores*, investigou as cascatas de cuidados e prevenção do HIV entre jovens mulheres trans brasileiras e examinou a associação entre fatores de risco relacionados ao vírus. A pesquisa foi apresentada em forma de pôster na 23ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho, em Brisbane, na Austrália.
Avaliaram-se dados de linha de base coletados em 2022 no projeto Brilhar e Transcender (BeT), visando a aumentar os comportamentos de prevenção e cuidados com o HIV entre mulheres trans de 18 a 24 anos do Rio de Janeiro, num total de 165 participantes. A média de idade era de 21 anos e 64,4% eram negras ou pardas. Entre as 23 voluntárias vivendo com HIV, nove estavam vinculadas ao atendimento clínico, cinco faltaram a uma consulta médica nos seis meses anteriores e cinco apresentavam supressão viral.
Das 142 jovens mulheres trans HIV negativas, 109 já haviam realizado o teste de HIV – dessas, 89 fizeram o teste nos 12 meses anteriores. No geral, 91voluntárias conheciam a profilaxia pós-exposição (PEP) e 120 conheciam a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, , mas apenas 19 (13,4%) já tinham tomado PEP e 13 (10,8%) usado PrEP.
As participantes que relataram já ter praticado trabalho sexual apresentavam chances significativamente maiores de fazer o teste de HIV, assim como aquelas que faziam uso de sustâncias químicas. Jovens mulheres trans que experimentaram insegurança alimentar ou que possuíam um diagnóstico de depressão tiveram uma associação limítrofe com menor uso de PrEP.
Segundo os autores, nenhum dos indicadores da cascata de cuidados e prevenção medidos no estudo estava perto de atingir as metas da UNAIDS, exceto a testagem de HIV. Eles afirmam que o apoio estrutural, como alimentação e cuidados de saúde mental, pode melhorar os comportamentos de prevenção entre aquelas pessoas que estão menos envolvidas nos cuidados com o vírus.
*Autores:
Emilia Jalil (1), Beatriz Grinsztejn (1), Cristina Jalil (1), Cristiane Castro (1), Ana Cristina Ferreira (1), Nilo Fernandes (1), Luciana Kamel (1), Isabele Moura (1), Cléo Oliveira (1), Daniel Bezerra (1), Laylla Monteiro (1), Daniel Waite (1), W. da Silva Santos (1), Edilene Bastos (1), Eduardo Netto (1), Sandra Cardoso (1), Brenda Hoagland (1), Valdiléa Veloso (1) e Erin Wilson (2)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2)Departamento de Saúde Pública de São Francisco, Trans Research Unit for Equity, São Francisco, EUA