Terapia genética pode diminuir o reservatório do HIV e suprimir moderadamente a carga viral
Dois ensaios clínicos, conduzidos por Ana Enriquez, da Universidade Emory, localizada na cidade norte-americana de Atlanta, descobriram que uma única infusão de células CD4 geneticamente modificadas é capaz de aumentar a contagem de CD4, reduzir o tamanho do reservatório do HIV (células do corpo em que o vírus se aloja) e controlar as cargas virais por vários anos. Os estudos foram apresentados na 30ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 19 a 22 de fevereiro de 2023, em Seattle, nos Estados Unidos.
Na primeira análise (SB – 728 – 902), deu-se uma única infusão de células de CD4 geneticamente modificadas a nove pessoas classificadas como “não respondedores imunes”, ou seja, pacientes que vivem com HIV e mantêm contagens de CD4 relativamente baixas mesmo após anos de terapia antirretroviral (TARV). Todos tinham níveis de CD4 entre 200 células/mm³ e 500 células/mm³ quando iniciaram o ensaio e continuaram a TARV durante o período de acompanhamento de quatro anos.
Após a infusão, os nove participantes experimentaram um aumento significativo na contagem de CD4 por até quatro anos. Além disso, quatro dos nove voluntários apresentaram uma redução de cerca de 90% no reservatório do HIV, que é medido pelas cópias do DNA do vírus por milhão de células.
O segundo estudo (SB – 728 – 1101) também avaliou nove pessoas que, inicialmente, receberam doses crescentes de ciclofosfamida (medicamento usado como quimioterapia para tratamento de câncer) a fim de promover a produção de células CD4. Em seguida, o grupo recebeu uma única infusão de células CD4 geneticamente modificadas e interrompeu a TARV seis semanas depois.
Quatro participantes tiveram cargas virais superiores a 10.000 cópias/ml na semana 22 e retomaram a TARV. Os outros cinco voluntários tiveram cargas virais mais baixas e interromperam o tratamento por pelo menos 12 meses. Dois desses cinco indivíduos conseguiram manter a carga viral em torno de 100 cópias/ml por cinco anos após a infusão.
A análise constatou que os participantes que mantiveram a interrupção da TARV por pelo menos 12 meses apresentaram níveis mais elevados de células CD4 em comparação com os outros voluntários. Além disso, os pesquisadores observaram que a presença dessas células correspondia a cargas virais controladas e reservatórios do HIV mais baixos.
Os autores ressaltam que ambos os ensaios, realizados de 2014 a 2020, nos Estados Unidos, foram publicados como pré-impressão e, portanto, ainda necessitam da revisão de outros cientistas.
Fonte: site da CROI, de 24 de março de 2023.