O uso de antirretrovirais injetáveis de longa duração para prevenção e tratamento do HIV em países de renda baixa e média
Enquanto métodos de prevenção e tratamento para o HIV se encontram amplamente difundidos por meio de comprimidos de uso oral diário, outras opções vêm sendo testadas. Recentemente, estudos como o HPTN 083 comprovaram a eficácia do cabotegravir injetável como profilaxia pré-exposição (PrEP). Da mesma forma, a eficácia da opção injetável para o tratamento do HIV foi igualmente comprovada por intermédio da combinação de cabotegravir e rilpivirina.
Essas modalidades de antirretrovirais injetáveis de longa duração têm o potencial de atenuar algumas barreiras para a adesão à PrEP e ao tratamento do HIV. Apesar de apresentar eficácia semelhante, o uso de comprimidos, muitas vezes, impõe dificuldades para aqueles que não se adequam à necessidade da ingestão diária de medicamentos. Além da eficácia clínica, pesquisas de aceitabilidade demonstraram alta satisfação, aceitabilidade e preferência dos participantes de estudos pelas opções injetáveis em relação às de comprimidos de uso cotidiano.
Mesmo com a eficácia comprovada desses antirretrovirais injetáveis de longa duração e sua disponibilização já existente em alguns países, um artigo, assinado por Cissy Kityo, do Centro de Pesquisa Clínica Joint, de Uganda, e outros colaboradores, inclusive do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, do Brasil*, e publicado na edição novembro de 2022 em Clinical Infectious Diseases, buscou ressaltar os desafios para a sua implementação em países de renda média e baixa.
O artigo chama a atenção para a questão essencial de avaliar a viabilidade dessas modalidades de antirretrovirais em situações concretas de diferentes contextos, já que a maior parte dos estudos e programas de implementação ocorreu em países de renda alta. As especificidades dos países de renda baixa e média dizem respeito a aspectos, por exemplo, como diferenças nas populações mais vulneráveis ou que vivem com HIV e as comorbidades mais frequentes nesses públicos, como hepatite B ou tuberculose.
Pensando nas barreiras específicas aos países de baixa e média renda, o artigo ressalta a necessidade da produção de dados e pesquisas que deem conta de lacunas como a produção de conhecimento para a devida implementação dos antirretrovirais injetáveis de longa duração e a avaliação do impacto e dos desafios para o sistema de saúde de tais países em relação a custo dos medicamentos, infraestrutura de armazenamento e necessidade de equipe especializada. Entender possíveis barreiras individuais de adesão às visitas da aplicação de injeção e aceitabilidades desses antirretrovirais também são aspectos ressaltados pelos autores.
Link para o artigo: https://academic.oup.com/cid/article/75/Supplement_4/S549/6835713
* Autores do artigo:
Cissy Kityo (1) Claudia Cortes (2), Nittaya Phanuphak (3). Beatriz Grinsztejn (4) e Francois Venter (5)
(1) Centro de Pesquisa Clínica Joint, Kampala, Uganda
(2) Faculdade de Medicina, Universidade do Chile, Santiago, Chile
(3) Instituto de Pesquisa e Inovação em HIV de Bangkok, Tailândia
(4) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(5) Instituto de Saúde Reprodutiva e HIV Ezintsha, Wits, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Witwatersrand, Johanesburgo, África do Sul