Abandono precoce em programas de PrEP se concentra em travestis, mulheres transgênero e HSH jovens no Rio de Janeiro
Mesmo altamente eficaz para proteger contra a infeção pelo HIV, o êxito da PrEP depende de cuidados especiais. Um deles é a continuidade na frequência aos centros de distribuição e acompanhamento do uso do medicamento que, independentemente do método utilizado (oral, injetável etc.), requer visitas periódicas.
Um estudo, liderado por Amanda Echeverría-Guevara, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e outros colaboradores*, buscou identificar fatores associados ao abandono precoce da PrEP entre participantes inscritos em programas do INI, no Rio de Janeiro. Publicado em The Brazilian Journal of Infectious Diseases, na edição de março/abril de 2023, o trabalho analisou a participação de gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), travestis e mulheres transgênero que iniciaram a PrEP oral diária de 2014 a 2021. Quatro estudos diferentes foram abrangidos pela pesquisa: o PrEP Brasil, o PrEParadas, o ImPrEP e o PrEP SUS. O abandono precoce foi definido como não retornar às visitas de acompanhamento nos primeiros 180 dias depois da primeira entrega dos medicamentos.
Foram incluídos na análise 1.463 participantes (180 do PrEP Brasil, 108 do PrEParadas, 637 do ImPrEP e 538 do PrEP SUS). Desse total, 137 abandonaram precocemente a profilaxia, quase 10% do total analisado, número concentrado entre participantes travestis e mulheres transgênero, com menor tempo de escolaridade e mais jovens – aqueles entre 18 e 24 anos demonstraram ter duas vezes mais chances de abandonar precocemente a PrEP do que aqueles com idade maior que 35 anos.
Na comparação entre os programas, o PrEP SUS foi o que apresentou maior número de abandonos precoces, seguido do ImPrEP; não houve, no entanto, nenhum abandono precoce entre as participantes do PrEParadas, estudo voltado especificamente para travestis e mulheres transgênero. Os autores do artigo apontaram, ainda, para a menor probabilidade de abandono precoce em programas nos quais a PrEP era iniciada no mesmo dia de inscrição, ao contrário daqueles em que uma visita prévia de triagem era requerida, o que ocasionava uma segunda visita para o início da profilaxia.
Como prioridade para programas de PrEP, os resultados apontam para a necessidade de estratégias de incentivo à permanência voltadas para travestis, mulheres transgênero, pessoas mais jovens e com menor escolaridade.
Link para o artigo:https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1413867022004263?via%3Dihub
* Autores do artigo:
Amanda Echeverría-Guevara(1), Lara Coelho (1), Valdiléa Veloso (1), Cristina Pimenta (2), Brenda Hoagland (1), Ronaldo I. Moreira (1), Iuri Leite (3), Emília Jalil (1), Sandra Cardoso (1), Thiago Torres (1) e Beatriz Grinsztejn (1).
(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, Ministério da Saúde, Brasília, Brasil
(3) Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil