Relação entre HIV e internações por mpox é tema de investigação do INI/Fiocruz
Apresentado em forma de pôster pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, na 30ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 19 a 22 de fevereiro, em Seattle, nos Estados Unidos, o estudo “Impacto da infecção pelo HIV nas internações relacionadas à monkeypox (mpox) no Brasil” analisou as taxas de hospitalizações causadas pela doença e explorou o impacto das infecções pelo HIV nessas internações. A pesquisa foi conduzida por Mayara Secco e outros colaboradores do INI*.
O estudo inscreveu todas as 416 pessoas com diagnóstico de mpox confirmados em um laboratório de referência na cidade do Rio de Janeiro, de 12 de junho a 31 de dezembro de 2022. A média de idade dos incluídos era de 34 anos, 92% homens cisgênero, 6% mulheres cisgênero e 2% mulheres transgênero.
Cerca de 87% dos participantes era composta por gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, 62,3% se autodeclararam negros ou pardos e 51,1% viviam com HIV. A taxa geral de hospitalização causada pela mpox foi de 9,6%. Desses, mais da metade (52,5%) viviam com HIV.
Em comparação com as pessoas que viviam com HIV não hospitalizadas, aquelas que viviam com o vírus e necessitaram de internação apresentaram com maior frequência contagem de CD4 inferior a 200 células/mm³ e uma infecção oportunista concomitante. Entre os hospitalizados, a maioria nunca havia realizado ou tinha interrompido a terapia antirretroviral.
Os motivos mais comuns para as internações, considerando-se toda a população da pesquisa, foram dores locais (92,5%), infecção bacteriana (52,5%), proctite (42,5%) e complicações urológicas (37,5%). Em relação às pessoas que viviam com HIV, a causa mais comum para a hospitalização foi a proctite (57,1%).
Os autores dizem que os resultados do estudo sugerem uma associação entre a infecção pelo HIV e hospitalizações causadas pela mpox. Também afirmam que a imunossupressão avançada contribuiu para o desenvolvimento de quadros clínicos graves e mortes relacionadas com a doença.
*Autores do trabalho:
Mayara Secco Silva, Carolina Coutinho, Thiago Torres, Eduardo Peixoto, Isabel Tavares, Estevão Nunes, Ronaldo Moreira, Flavia Lessa, Hugo Andrade, Maíra Mesquita, Matheus Bastos, Sandra Cardoso, Valdiléa Veloso e Beatriz Grinsztejn (1), do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.