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Estudo revela como a comunidade LGBTQIA+ enxerga a mpox no Brasil

Atualmente, o Brasil ocupa o segundo lugar no ranking de óbitos causados pela monkeypox (mpox) no mundo. A partir desse cenário, foi realizado o estudo “Alto nível de conhecimento e estigma sobre a mpox entre a comunidade LGBTQIA+ no Brasil”, conduzido por Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, e outros colaboradores*. O trabalho, apresentado pelo instituto em forma de pôster na 30ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada de 19 a 22 de fevereiro, em Seattle, nos Estados Unidos, teve como objetivo avaliar o conhecimento sobre a doença, bem como descrever as características sociodemográficas e comportamentais entre aqueles que autorrelataram um diagnóstico de mpox no país.

A pesquisa on-line focou em adultos maiores de 18 anos residentes no Brasil, os quais foram acessados por meio de anúncios em aplicativos e redes sociais, como Scruff, Grindr, Instagram e Facebook. Foram abordados temas como conhecimento da mpox, sintomas, diagnóstico, comportamento sexual, realização de teste de HIV, diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis, além de questões sociodemográficas.

De outubro a novembro de 2022, 6.236 participantes responderam aos questionários. No total, 5.686 (91,2%) eram homens cisgênero, 252 (4%) não-bináries ou queer, 247 (4%) mulheres cisgênero, 15 (0,2%) homens transgênero e 15 (0,2%) mulheres trangênero. A maioria (96,7%) se identificava com a comunidade LGBTQIA+, era branca (62,2%), com ensino superior completo (78,7%) e possuía média ou baixa renda (73%).

Cerca de 96% já tinham ouvido falar da mpox e se disseram dispostos a tomar uma vacina contra a doença. Quase 85% concordavam que a comunidade LGBTQIA+ vem sendo estigmatizada em razão da mpox.

Trezentos e vinte e quatro voluntários (5,6%) autorrelataram diagnóstico positivo para a mpox. Desses, 98,1% reportaram lesões na pele, 56% dor no local das lesões e 99,4% disseram ter procurado uma unidade da saúde para investigar o problema. A maior parte dos casos estava concentrada nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo.

Os participantes da pesquisa acometidos pela doença eram mais jovens, tinham parceiros sexuais com mpox e informaram um maior número de relações sexuais nos três meses anteriores ao estudo, em comparação com os que não reportaram um diagnóstico de mpox. A realização de testes de HIV e o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV foram mais comuns entre aqueles que informaram um diagnóstico positivo da doença.

De acordo com os autores, os resultados da análise apontam para uma alta conscientização da mpox entre a comunidade LGBTQIA+. Eles afirmam que expandir os cuidados com a doença é fundamental para evitar o subdiagnóstico e abolir o estigma e o preconceito nos serviços de saúde.

*Autores do trabalho:

Thiago Torres (1), Mayara Secco Silva (1), Carolina Coutinho (1), Brenda Hoagland (1), Sandra Cardoso (1), Julio Moreira (2), Paula Luz (1), Valdiléa Veloso (1) e Beatriz Grinsztejn (1)