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Keila Simpson é a primeira travesti Doutora Honoris Causa do Brasil

Foi com enorme alegria que a equipe ImPrEP CAB Brasil recebeu a notícia de que Keila Simpson, coordenadora comunitária para a população trans do projeto, renomada ativista LGBTI+ e presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) desde 2016 teve seu trabalho reconhecido de forma histórica:  tornou-se a primeira travesti do Brasil a receber o título de Doutora Honoris Causa. A homenagem foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Universitário da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Tradicionalmente concedida por universidades a personalidades que se destacam por suas contribuições à cultura, educação ou humanidade, a concessão da honraria foi divulgada pelas redes sociais da ANTRA, em 15 de dezembro de 2022. “Receber esse título traz uma simbologia mais coletiva do que individual. É uma vitória de todo o movimento transexual e do próprio movimento LGBTI+. Claro que, pessoalmente, me sinto muito feliz em ver uma trajetória de luta reconhecida, mas espero que essa homenagem sirva de inspiração para muitas outras mulheres transexuais”, comemorou Keila.

De acordo com a ativista, a ação para o recebimento da homenagem foi movida, em agosto de 2022, pela educadora Sara Wagner York e pela ativista Bruna Benevides. Documentações, artigos e publicações sobre a trajetória de Keila foram apresentados e avaliados pela universidade, passando pela reitora Catia Antonia da Silva e, por fim, pela aprovação do Conselho Universitário da instituição.

Vale lembrar que o psicólogo e escritor João Nery que se tornaria, em outubro de 2018, a primeira pessoa trans a receber o título de Doutor Honoris Causa no país, morreu, vitimado por um câncer, quatro dias antes da cerimônia. Ele acabou homenageado pela universidade em 2021.

“Agradeço ao universo por iluminar a cabeça desses docentes que decidiram dar essa honraria a uma travesti de 57 anos de idade”, afirmou a ativista. Quando perguntada sobre os desafios futuros, Keila não hesitou: “O primeiro é viver. O segundo, sobreviver. Feito isso, é lutar para que nós, pessoas transexuais, tenhamos mais espaço na sociedade, mais empregabilidade, mais educação e mais segurança”.

Novo desafio

Uma das marcas da trajetória de Keila é a coragem de enfrentar desafios, tendo sido a primeira travesti, por exemplo, a presidir o Conselho Nacional LGBTI+. Em 2022, assumiu uma nova empreitada, passando a integrar o projeto ImPrEP CAB Brasil, voltado a reunir subsídios visando a possível oferta da modalidade injetável da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV no âmbito do Sistema Único de Saúde.

Em relação a esse novo desafio, Keila diz que o principal trabalho será ampliar a conscientização da população trans no sentido de se proteger do HIV, assim como dar maior visibilidade à PrEP, seja oral ou injetável, como uma tecnologia de prevenção. “Sabemos, por exemplo, que a modalidade injetável da PrEP, hoje, ainda não pode ser aplicada em quem usa prótese ou silicone líquido nas nádegas, mas creio que as demandas e reivindicações que certamente vão surgir despertarão pesquisas e trabalhos científicos voltados especificamente para as questões e particularidades da população transexual”, finalizou a nova Doutora Honoris Causa brasileira.

Fonte: revista Marie Claire, 15/12/2022