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Live ImPrEP debate enfrentamento à monkeypox no Brasil

A informação é um instrumento fundamental para se enfrentar uma nova doença e para combater estigmas e preconceitos. Ciente disso, o projeto ImPrEP realizou, em 8 de setembro de 2022, via sua página no Facebook (@imprerbrasil), a live Monkeypox: o que precisamos saber sobre essa doença?”. O encontro virtual contou com as participações de Valdiléa Veloso, diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) e pesquisadora principal do ImPrEP, Mayara Secco, infectologista do INI, Laylla Monteiro e Carolina Ribeiro, educadoras comunitárias do ImPrEP no Rio de Janeiro, Gabriel Mota, educador comunitário do ImPrEP em Manaus, e Claudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris. A mediação do debate ficou por conta de Júlio Moreira, coordenador comunitário do projeto.

A reunião começou com Valdiléa apresentando um histórico da monkeypox no mundo, informando que o primeiro caso da doença foi registrado em 1958 e que o primeiro surto ocorreu, em 1996, na República Democrática do Congo. Em seguida, relatou que a Organização Mundial da Saúde recentemente declarou a monkeypox como emergência de saúde pública, já que o surto atual se alastrou por todos os continentes, em especial na região das Américas, local com o maior número de casos, e na Europa.

Valdiléa seguiu dizendo que o Brasil registra atualmente 5.726 casos da doença, com dois óbitos de pacientes que apresentavam imunossupressão. Relatou que a transmissão da monkeypox acontece por meio de contato próximo e prolongado, mas que ainda não há plena certeza se o vírus  pode ser transmitido sexualmente. A pesquisadora continuou informando que febre e erupções cutâneas são os principais sintomas causados. Sobre vacina, ressaltou que o Ministério da Saúde comprou 49 mil doses, a serem administradas em forma de estudo, já que a vacina a ser usada não foi desenvolvida especificamente para monkeypox.

Em seguida, Mayara fez uma apresentação sobre os aspectos clínicos da doença. Iniciou sua fala explicando que, em países não endêmicos, a monkeypox pode apresentar sintomas mais leves, apesar de um número elevado de pacientes relatar erupções na região genital e anal. A infectologista informou que lesões na cavidade oral são mais raras, mas também já foram registradas.

Mayara ressaltou que um serviço de saúde deve ser procurado imediatamente em caso de febre alta acompanhada de cansaço físico, íngua, lesões na pele, desconforto anal, corrimento no ânus e/ou contato sexual com alguém infectado pelo vírus. Porém, esclareceu que, geralmente, com o tempo, a doença regride sozinha e todos os sintomas, inclusive as erupções, tendem a desaparecer por completo. A infectologista finalizou sua explanação lembrando que pessoas com a monkeypox devem ficar isoladas por, em média, três semanas.

A live prosseguiu com Júlio passando a palavra ao presidente do Arco-Íris, que elogiou a iniciativa: “Esse tipo de encontro é essencial porque representa a construção de uma ponte entre a ciência e a sociedade civil. Nós, da comunidade LGBTI+, sempre desejamos sair dessa posição subalterna em que nos colocam e participar da produção de conhecimento científico.Eu enxergo o INI/Fiocruz como um lugar de empoderamento”.

A seguir, foi a vez de Laylla. A educadora informou que muitas mulheres trans já se sentem estigmatizadas por causa da monkeypox: “Tenho recebido vários relatos de meninas assustadas. Dizem que as pessoas fogem delas. O meu papel é acalmá-las e encaminhá-las à coordenação do INI e ànossa equipe médica”.

Carolina emendou: “Infelizmente, nós, mulheres trans, continuamos sendo alvo de todo tipo de preconceito. Ontem mesmo soube do caso de uma companheira que foi impedida de entrar em um ônibus para não transmitir a doença aos passageiros. A gente não pode mais naturalizar esse tipo de atitude”.

Sensibilizado com as falas de Laylla e Carolina, Claudio pediu a palavra novamente: “Casos de estigma reforçam a importância da produção de conteúdo simples, com informação direta e para toda a comunidade LGBTI+. Precisamos chegar ao bar, à sauna, à boate, à rua… Precisamos ocupar todos os espaços. Temos que gerar esperança de que a monkeypox será erradicada. Chega de medo”.

Já Gabriel destacou que “Aqui em Manaus, na Fundação de Medicina Tropical, foram registrados menos de dez casos. É pouco, mas o suficiente para nos deixar preocupados. Estamos saindo de uma pandemia e com isso surge um novo período de liberação sexual. E se o sexo for, de fato, uma via de transmissão dessa doença? Novamente seremos vítimas de todo tipo de preconceito”.

Finalizando a live, Valdiléa agradeceu aos participantes e enalteceu a iniciativa: “Fico feliz em participar de um debate com pessoas tão especiais. É sempre enriquecedor trocar experiências com vocês. Eu aprendo muito. Encerro dizendo que quando a ciência e a comunidade trabalham em conjunto, os resultados aparecem muito mais rapidamente. Está sendo assim com o HIV e tenho certeza que também será com a monkeypox. Vamos enfrentar esse vírus e, com a ajuda de todos, vencê-lo”.