Ativistas brasileiros consideram importante a adoção da PrEP injetável para melhorar a adesão de populações mais vulneráveis (Agência de Notícias da Aids)
(Reproduzido da Agência de Notícias da Aids, 11/1/2022, ver https://agenciaaids.com.br/noticia/ativistas-consideram-importante-a-adocao-da-prep-injetavel-aprovada-nos-eua-para-melhorar-a-adesao-de-populacoes-mais-vulneraveis/)
No final de dezembro de 2021, o US Food and Drug Administration (FDA) aprovou o Apretude (suspensão injetável de liberação prolongada de cabotegravir) para uso em adultos e adolescentes em risco com peso de pelo menos 35 kg para profilaxia pré-exposição (PrEP) para reduzir o risco de sexualmente HIV adquirido. O Apretude é administrado primeiro em duas injeções de iniciação administradas com um mês de intervalo e, posteriormente, a cada dois meses. Os pacientes podem iniciar o tratamento com Apretude ou tomar cabotegravir (Vocabria) oral por quatro semanas para avaliar se toleram bem o medicamento.
Ativistas receberam com otimismo a nova tecnologia que, segundo eles, vai melhorar a adesão à PrEP, mas consideram importante que ela esteja acessível às populações mais vulneráveis, como profissionais do sexo e pessoas em situação de rua. Leia abaixo:
Marta McBritton – presidente do Instituto Cultural Barong: “Eu vejo com bons olhos. É claro que para a gente ter acesso a uma tecnologia que é sofisticada como essa, você necessita de uma política pública que contemple não somente os eixos Rio/SP e outros, onde tudo funciona mais, a região Sudeste. O importante dessa tecnologia é que ela chegue justamente nas pontas. Esse seria o grande desafio, pensando nos homens que fazem sexo com homens, porém com muita dificuldade, no sentido de assumir a sua sexualidade por morar em municípios pequenos. Aí é sempre um sexo de risco, meio escondido, às pressas. Essa população que está cada vez mais invisível: as profissionais do sexo que trabalham nos pequenos municípios, as travestis…Tem a questão se esse medicamento pode ser aplicado no braço, acredito que não, mas as travestis utilizam silicone. Então, todas essas pessoas que têm a vulnerabilidade acrescida, dentro de uma política pública eficaz, em que haja uma relação entre sociedade civil e departamento nacional, seria fundamental. Porque a gente precisa de veias, literalmente a gente precisa encontrar maneiras de chegar na população que ninguém vê e são essas as pessoas que têm o risco acrescido. Pelo menos, é isso o que eu observo em tantas viagens que faço, por exemplo, na Região Norte, onde você não pode passear de mãos dadas com o seu namorado. Então, todas as vulnerabilidades acabam fazendo com que até o uso da camisinha não seja viável. A questão é como será feita essa distribuição, o acesso a esse insumo. É o conjunto da obra: a educação sexual, quebra de preconceitos, o plano B, C, D, F, todos eles para chegar até a melhor prevenção.”
Toni Reis – Presidente da Aliança Nacional LGBT+: “É uma excelente notícia para a prevenção combinada. A ciência pode ajudar muito com a PrEP injetável, isso diminui o trabalho das pessoas ficarem carregando seus medicamentos, suas pílulas, que muitas vezes esquecem de usar. Quando é injetável, a pessoa vai lá e fica protegida por um certo período. Vejo com bons olhos. O Brasil sempre foi vanguarda na questão da prevenção. É claro que temos dificuldades com a atual política nacional, mas creio que as autoridades responsáveis pela questão do HIV/aids no Brasil estarão de olho e, com certeza, nós vamos colocar isso na discussão para as próximas candidaturas à presidência da República. Tudo que vem para inovar e ajudar a saúde das pessoas é bem-vindo.”
Geraldo Magela – coordenador Casa A+ Palmas –TO: “Acolhemos com muita satisfação esta notícia desse novo tratamento da prevenção aprovado pela agência do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, dessa injeção de prevenção do HIV a cada dois meses. Isso é importante, porque a PrEP aqui no Brasil, pela qual nós lutamos diariamente, é um comprimido e quando a gente entra em contato com algumas populações, que a gente consegue a adesão aos comprimidos, na maioria das vezes o comprimido é esquecido. Isso acarreta em a pessoa ter contato diretamente com o vírus e consequentemente se infectar. Uma ferramenta como essa, para nós que atuamos diariamente com diversas populações e tipos de pessoas, é importante. Porque são muitas situações, temos vivenciado situações em que a pessoa vive na rua, não tem nem onde guardar o comprimido, pode não ter acesso ao medicamento e nem à água potável para ingeri-lo. Acreditamos que essa iniciativa deveria ser implantada aqui no Brasil para que as pessoas tenham facilidade ao acesso às duas injeções em vez do comprimido que tem que ser tomado todos os dias. Isso vai ajudar na adesão e melhorar a eficácia do tratamento. Principalmente agora, quando o número de pessoas em situação de rua tem aumentado ainda mais e a adesão ao tratamento, às vezes é desestimulada pela distância, pela burocracia ou pelo esquecimento.”