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ImPrEP encerra série de lives 2021 debatendo população negra e luta contra a aids

Encerrando seu ciclo 2021 de lives, o ImPrEP realizou mais dois encontros virtuais da série em que seus educadores e educadoras de pares (EPs) debateram assuntos relacionados à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, prevenção combinada, infecções sexualmente transmissíveis, entre outros temas importantes, sempre contando com a participação de convidados ilustres.

Mais uma vez promovidas em parceria com a Aliança Nacional LGBTI+ e sob a mediação de Júlio Moreira e Alessandra Ramos, coordenadores comunitários para as populações HSH e trans do estudo, as lives de novembro e dezembro abordaram os temas prevenção combinada x população negra e Dia Internacional de Luta contra a Aids, respectivamente.

“População negra e prevenção combinada” contou com as presenças de Heliana Monteiro, ex-membro do Grupo Arco-Íris e ativista negra, Claudio Nascimento, presidente do Grupo Arco-Íris, e Fernanda Falcão, EP do ImPrEP em Recife. O encontro começou com os mediadores discorrendo sobre a importância da PrEP e da prevenção combinada entre as populações-chave do projeto, em especial entre a população negra. Heliana pediu a palavra e afirmou: “Antes de tudo, precisamos repudiar qualquer tipo de preconceito. Eu tenho lugar de fala e quero debater o racismo. O racismo, no Brasil, é estruturante e estruturado. Quem faz o povo negro ser vulnerável é a sociedade”.

Em seguida, foi a vez de Fernanda falar: “Não existe equidade no SUS quando falamos da população negra. Temos grandes dificuldades para acessar os serviços e permanecer neles. Nesse aspecto, o ImPrEP vem sendo muito importante, porque ajuda a corrigir essas distorções. Nosso método é o diálogo direto com o público, a conscientização. Aqui, o negro tem vez”. Heliana arrematou com uma informação importante: “Já está provado que a população de mulheres negras é a que mais procura pelos serviços do SUS”.

O debate continuou com Heliana: “A Fernanda tocou em um ponto fundamental: o diálogo. Mas tem que ser um diálogo simples, franco e aberto. Não há conversa viável com academicismos. Como falar da revolução que a PrEP representa sem uma linguagem direta? Mas o racismo tem que ser incluído nesse discurso. Não há outra forma de combatê-lo”.

Ao ouvir as palavras de Heliana e Fernanda, Claudio pontuou: “Discutir a saúde da população negra é diferente de discutir a saúde da população branca. Quando questões como gênero e sexualidade são postas à mesa, a situação fica ainda mais grave. O acesso não é e nunca foi igualitário. É preciso dizer isso com todas as letras. Nós, negros e pessoas LGBTQIA+, precisamos nos inserir no cotidiano da sociedade sem estigmas. Afinal, sentimos prazer e dor como qualquer outra pessoa”.

O encontro se encaminhou para o final com Heliana, mais uma vez, destacando a importância da luta contra o racismo. “No Brasil, ainda temos muito a evoluir nesse quesito. A gente faz protesto contra o racismo quando um negro é assassinado nos Estados Unidos. Legal. Mas e quando centenas de negros são covardemente assassinados diariamente em nosso país? Não acontece nada”. Fernanda concluiu: “A luta contra o racismo ainda não foi incluída de forma consistente no movimento LGBTQIA+. Já passou da hora disso acontecer”.

1º de dezembro

Realizado no primeiro dia do mês de dezembro, o tema do último encontro de 2021 não poderia ser outro: “Dia Internacional de Luta conta a Aids”. A live contou com a participação especial de Valdiléa Veloso, pesquisadora principal do ImPrEP, e de Thiago Oliveira, EP do projeto em Porto Alegre.

Valdiléa começou parabenizando os coordenadores comunitários do estudo pelo conteúdo dos debates e falando sobre a importância da educação de pares: “Criamos os EPs para melhorar o acolhimento de nossas populações-chave e acertamos em cheio. Posso dizer, sem medo de errar, que sem eles o ImPrEP não seria o mesmo. Os EPs fazem a ponte entre os pesquisadores e a comunidade. Nós todos aprendemos muito com eles”.

Em seguida, Thiago falou sobre o trabalho desenvolvido na capital gaúcha: “Foi uma estrada muito bacana de autoconhecimento. O ideal do ImPrEP é uma coisa que não se pode perder jamais. Mesmo com todas as dificuldades da pandemia da Covid-19, conseguimos manter nosso trabalho de pé. Sinto muito orgulho disso”.

Valdiléa continuou falando sobre o futuro do projeto. “Ainda temos muito trabalho pela frente. Hoje, existem cerca de 30 mil pessoas tomando PrEP no Brasil. É pouco. Não deixamos de produzir, mas a pandemia atrapalhou. Precisamos elevar esse número, precisamos avançar para beneficiar os mais vulneráveis. Vamos desenhar novas estratégias para alcançar essas pessoas”.

Em seguida, a pesquisadora principal falou sobre as conquistas do ImPrEP: “Não foram poucas, mas cito os estudos acerca da população trans como uma das principais. Precisávamos conhecer mais sobre essa população tão vulnerável em nosso país”. O engajamento da sociedade civil foi outro ponto abordado por ela. “É fundamental. Nosso trabalho só será totalmente eficaz quando acontecer um envolvimento maior da comunidade. É preciso disseminar os conhecimentos sobre a PrEP”.

Outro assunto importante lembrado por Valdiléa foi o autoteste deHIV. “Outro mérito do ImPrEP foi a difusão do autoteste de HIV. Muita gente sequer conhecia essa modalidade de testagem. O autoteste, que antes era distribuído apenas no SUS, foi disponibilizado em todos os nossos centros de estudo”.

A pesquisadora principal do ImPrEP finalizou falando sobre a PrEP injetável de longa duração. “A Fiocruz participou do estudo HPTN083, uma medicação de longa duração em que a pessoa recebe uma injeção da profilaxia a cada dois meses. Agora, isso precisa ser posto em prática na vida real. Esse é o próximo desafio do ImPrEP. No início de 2022, esse medicamento já deve estar autorizado e vamos trabalhar para difundi-lo. Nosso objetivo é que a PrEP injetável seja popularizada mais rápido do que a PrEP oral”.

Thiago agradeceu a oportunidade de participar do projeto e terminou com uma advertência: “A PrEP é ótima, é eficaz, mas sozinha não é suficiente para proteger do HIV. Vamos difundir a profilaxia em todas as suas modalidades sem nunca esquecer da importância da prevenção combinada como um todo”.

Coube aos coordenadores comunitários encerrarem o último encontro da série. Júlio destacou a importância da solidariedade: “Precisamos valorizar essa palavra. Solidariedade significa cuidar de si e do outro com o mesmo carinho. E pensar no outro é a maior lição do ImPrEP. Posso dizer que nossos EPs são multiplicadores de solidariedade”. Alessandra agradeceu a todos os envolvidos no projeto e se despediu celebrando os EPs: “Eles foram maravilhosos. Deram aula de cidadania”.

Todas as lives ImPrEP estão disponíveis na página do ImPrEP no Facebook (@imprepbrasil) e no site www.imprep.org.