Desafios e facilitadores para a implementação da PrEP em serviços de saúde pública no Brasil sob a pandemia de Covid-19
No simpósio satélite “Implementação da PrEP na América Latina: resultados do projeto ImPrEP”, organizado pelo projeto na 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021), promovida virtualmente pela International Aids Society, de 18 a 21 de julho, a apresentação da palestra “Desafios e facilitadores para a implementação da PrEP em serviços de saúde pública no Brasil durante a pandemia de Covid-19” foi feita por Brenda Hoagland, coordenadora clínica do ImPrEP.
A pandemia trouxe muitos desafios para o mundo, incluindo garantir o acesso à profilaxia pré-exposição (PrEP) para as pessoas em alto risco de infecção pelo HIV, apesar das recomendações para distanciamento social, bloqueio e outras medidas restritivas. O ImPrEP desenvolveu um modelo de atendimento para garantir os serviços de PrEP aos seus participantes, por meio de estratégias de telemedicina e entrega de autotestes de HIV.
Entre os procedimentos propostos: consulta telefônica para rastrear suspeita dos sintomas de Covid-19; teleconsulta inicial, na qual o participante comparecia ao serviço apenas para teste de HIV e reabastecimento de medicamentos; e teleconsultas de acompanhamento, em que os participantes se dirigiam ao serviço de saúde somente para receber nova leva de medicamentos – sem falar nas orientações para o uso correto de autoteste para HIV disponibilizados e esclarecimento de dúvidas existentes.
O plano inicial era desenvolver essa estratégia nos três países que integram o ImPrEP. Devido às diferentes realidades de cada país, apenas no Brasil a implementação foi concluída. No Peru, o sistema de saúde ficou totalmente sobrecarregado durante o bloqueio inicial relacionado à Covid-19, em especial pelo grande número de profissionais de saúde que tiveram dispensa do trabalho devido à idade e/ou comorbidades. O pessoal restante dedicou-se em providenciar a terapia antirretroviral às pessoas que vivem com HIV. Nesse contexto, os serviços de prevenção ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis foram interrompidos. No México, o autoteste de HIV ainda não está disponível.
No Brasil, todos os centros de estudo receberam capacitação para oferecer telemedicina e autotestagem. A implementação foi adaptada localmente em razão das particularidades entre as cidades, serviços de saúde e medidas de restrição. Entre os facilitadores, o apoio do Ministério da Saúde, com fornecimento de kits de autoteste para todos os centros ImPrEP e para outros serviços de PrEP que optaram por implementar a telemedicina.
Os centros de estudo ImPrEP contavam com pessoal dedicado exclusivamente ao fornecimento da profilaxia, o que garantiu a implementação das estratégias propostas. A maioria dos participantes tinha acesso a smartphones, facilitando o sucesso das medidas de atendimento virtual.
Entre as conclusões da iniciativa, a constatação de que o uso da telemedicina e do autoteste de HIV mostrou-se altamente eficaz na garantia da oferta de PrEP no contexto da pandemia, mesmo nos locais que conseguiram implementar apenas parcialmente a proposta. Tais medidas reduziram o número e o tempo de permanência dos participantes nos locais, além da realização de uma triagem ativa dos pacientes sintomáticos para Covid-19, o que potencialmente reduziu o risco de transmissão da doença entre participantes e profissionais dos serviços. Vale ressaltar, ainda, que em alguns locais, essas estratégias foram adotadas também para usuários inscritos no Programa de PrEP do Ministério da Saúde, expandindo a oferta da profilaxia para além dos participantes do ImPrEP.