Da inclusão à adesão e retenção nos serviços de PrEP: experiências do ImPrEP no México
“Implementação da PrEP na América Latina: resultados do projeto ImPrEP” foi o título do simpósio satélite organizado pelo ImPrEP para a 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021), promovida virtualmente pela International Aids Society, de 18 a 21 de julho. Entre as apresentações do simpósio, estava a explanação “Da inclusão à adesão e retenção nos serviços de PrEP: experiências do ImPrEP no México”, feita por Hamid Vega, do Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de La Fuente Muñiz, e co-pesquisador principal do ImPrEP no México.
O projeto é desenvolvido naquele país desde 2018, por um serviço público de saúde, especializado em HIV e muito conhecido pelas populações-chave do estudo (gays/outros homens que fazem sexo com homens – HSH, travestis e mulheres trans), e por três organizações comunitárias, sendo o ImPrEP a primeira iniciativa de oferta de profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV em grande escala no México.
A coorte no país é representada, principalmente, por HSH com alto nível educacional e com alta prevalência de uso de substâncias. As organizações comunitárias apresentam maior número de HSH mais jovens e mulheres trans, provavelmente por esses públicos se sentirem mais confortáveis em locais da comunidade do que nos serviços públicos de saúde. No entanto, a reinclusão de participantes após o fechamento das unidades causado pela Covid foi mais difícil nessas organizações do que na unidade pública de saúde, em razão de terem mais restrições para a retomada das atividades após o confinamento.
Até abril de 2021, a persistência precoce em PrEP pelos participantes no México, caracterizada pelo comparecimento a duas visitas de acompanhamento dentro de 120 dias do início da profilaxia, era de 88%, apontando que os participantes com comportamento sexual de maior risco e bom nível educacional apresentam maior chance de dar prosseguimento ao uso da profilaxia.
No entanto, outros participantes com alto risco de HIV, em especial a população de mulheres trans, foram associados a menores chances de retenção nos serviços de PrEP. O advento da Covid-19 também está associado à descontinuidade, provavelmente devido às restrições de atividades estabelecidas pelo governo federal e governos locais. As principais razões apontadas para a descontinuidade precoce são a percepção individual do uso da PrEP por parte dos participantese a realização de consultas de acompanhamento consideradas como situações demoradas.
Especificamente sobre o subestudo que o ImPrEP realizou, em 2020, acerca da conscientização, crenças e barreiras para a prescrição da PrEP entre médicos no Brasil e no México, Hamid destacou o índice de conscientização sobre a profilaxia entre os 481 profissionais dos dois países que responderam à pesquisa (86% entre os brasileiros e 82% entre os mexicanos), o conhecimento sobre as diretrizes nacionais de PrEP (83% no Brasil e 75% no México), a disposição em prescrevê-la (78% e 65%, respectivamente) e prescrições já realizadas (48% e 33%).
O pesquisador concluiu voltando a frisar a grande contribuição do projeto ImPrEP em ser a primeira oportunidade para a oferta de PrEP no México de ofertar a profilaxia em grande escala para populações com alto risco de adquirir o HIV, apresentando alto índice de persistência precoce em PrEP pelos participantes. Também ressaltou a sinergia e a eficácia dos serviços públicos de saúde e das organizações comunitárias em alcançar as populações mais vulneráveis.
Finalizou afirmando que diferentes estratégias para melhorar a inclusão e a persistência em PrEP por parte de pessoas menos escolarizadas, mulheres trans e profissionais do sexo são necessárias, bem como estratégias para aperfeiçoar habilidades de autocuidados em saúde.