PrEP: temas gerais

Conscientização, crenças e barreiras para a prescrição de PrEP entre médicos no Brasil e no México – o estudo ImPrEP

Um elemento-chave para melhorar as estratégias de prevenção do HIV com a pré-exposição profilaxia (PrEP) é a avaliação da consciência, conhecimento, crenças, attitudes e vontade dos médicos que trabalham com o universo do HIV em prescrevê-la. Existem poucas informações sobre as atitudes desses profissionais nos países da América Latina, onde a PrEP ainda não está totalmente disponível.

O trabalho “Conscientização, crenças e barreiras para a prescrição de PrEP entre médicos no Brasil e no México – o estudo ImPrEP”, realizado por Hamid Vega, do Centro de Pesquisa em Saúde Mental Global/Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, do México, e pesquisadores do grupo de estudo ImPrEP*, teve como objetivo se debruçar sobre o tema. O estudo foi  apresentado em forma de pôster na 11ª Conferência sobre a Ciência do HIV (IAS 2021),  promovida virtualmente pela International Aids Society, de 18 a 21 de julho.

A análise do projeto ImPrEP, conduzida durante 2020, baseou-se em pesquisa transversal via web com os públicos citados. Os participantes responderam a questões sobre sociodemografia, experiência profissional, consciência, crenças e barreiras para prescrever a PrEP. O recrutamento teve o apoio dos programas nacionais de HIV de cada país.

A amostra final foi de 481 médicos participantes: 339 (70,5%) do Brasil e 142 (29,5%) do México, sendo 276 (57,4%) do sexo masculino. Comparado com o Mexico, o Brasil teve mais participantes com idades superiores a 50 anos, especialistas em infectologia e com mais de 20 anos de experiência como médicos. Já os participantes mexicanos atendiam mais pacientes com HIV em unidades públicas, com média de 50 pacientes em acompanhamento.

A proporção de participantes relatando conhecimento acerca da PrEP oral diária, treinamento anterior sobre o assunto e conhecimento das diretrizes nacionais da profilaxia foram semelhantes nos dois países. Os médicos brasileiros relataram maior disposição para prescrever a PrEP, experiências anteriores em termos de prescrição da profilaxia e encaminhamento de potenciais usuários para o serviço de PrEP.

Os profissionais de ambos os países concordaram com os benefícios da PrEP para gays, bissexuais e outros HSH, adolescentes e jovens. Porém, os médicos brasileiros apontaram que outros públicos-chave, como profissionais do sexo, também se beneficiariam com o uso da profilaxia, mas não a população em geral. Os médicos mexicanos relataram mais razões por que a PrEP não deve ser oferecida (questões orçamentáias, intervenções comportamentais anteriores ao uso da profilaxia, entre outras) e mais preocupações e barreiras para prescrevê-la do que os colegas brasileiros.

O estudo conclui que os médicos que trabalham com HIV compartilham algumas características, conhecem a PrEP, mas têm diferenças para a prescrição da profilaxia. A maior vontade de prescrever a PrEP e menores barreiras percebidas e preocupações entre os participantes brasileiros podem estar relacionados à  disponibilidade da profilaxia como política pública nacional desde 2017, enquanto no México um piloto nacional de oferta da PrEP começou apenas em 2021.

Também é importante ressaltar que as barreiras percebidas pelos médicos mexicanos estão relacionadas ao comportamento dos usuários, apontando necessidade de maior e melhor divulgação sobre a PrEP no país.

*Autores do artigo:

E.H. Vega-Ramirez (1), Thiago Torres (2), C. Guillen-Diaz-Barriga (1), Cristina Pimenta (3), D. Diaz-Sosa (1), R. Robles-Garcia (1), Kelika Konda (4), Brenda Hoagland (2), Marcos Benedetti (2), S. Diaz (5), Helen Vermandere (6), Sergio Bautista-Arredondo (6), Juan V. Guanira (4), Ronaldo Ismerio Moreira (2), Beatriz Grinsztejn (2), Carlos Caceres (4) e Valdiléa Veloso (2), do grupo de estudo ImPrEP.

(1)Centro de Pesquisa em Saúde Mental Global/Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz-México; (2) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz-Brasil; (3) Ministério da Saúde do Brasil; (4) Centro de Investigação Interdisciplinar em Sexualidade, Aids e Sociedade/Universidade Peruana Cayetano Heredia-Peru; (5) Fundo das Nações Unidas para População-México; (6) Instituto Nacional de Saúde Pública-México.