Necessidade de sobrevivência prejudica a adesão à PrEP entre mulheres que usam drogas injetáveis
Um estudo qualitativo, conduzido por Marisa Felsher, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore (EUA), entre mulheres que usam drogas injetáveis na Filadélfia, buscou entender como a rotina dessas mulheres afeta a capacidade de adesão à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV. Ensaios anteriores relataram que as participantes apresentavam interesse na profilaxia, mas esse novo estudo, publicado de forma on-line em abril de 2021 na Social Science & Medicine, demonstrou que elas tiveram muita dificuldade de permanecer aderentes.
Vinte e três mulheres participaram desse estudo qualitativo, entre junho de 2018 e agosto de 2019, com idade média de 36 anos. Dezesseis participantes eram brancas, três negras e quatro de etnia hispânica. Os pesquisadores realizaram entrevistas detalhadas com as mulheres, em um centro de distribuição de seringas, 12 e 24 semanas após o início do tratamento com a profilaxia.
A adesão à PrEP se mostrou bastante limitada. Já na primeira visita de acompanhamento, quatro das 23 entrevistadas relataram não ser aderentes, sete informaram adesão inconsistente e 12 disseram ser aderentes. Porém, após o exame de urina realizado na consulta, apenas uma participante apresentou níveis de tenofovir consistentes com proteção para a infecção pelo HIV.
As participantes se disseram mais focadas nas necessidades básicas, incluindo o uso de substâncias. Uma delas explicou: “A gente fica sob o efeito da droga por um curto período. Em cerca de três horas já é necessáriousar novamente. Por isso, temos sempre que comprar mais drogas. É um hábito caro e demorado”.
O desvio de medicamentos era tanto um desafio para a adesão quanto uma forma de geração de renda. Muitas participantes, durante as entrevistas, discutiam abertamente a venda dos seus remédios, incluindo a PrEP, para o mercado informal e farmácias clandestinas.
Durante o estudo, 16 participantes encontravam-se em situação de rua, o que ocasionava riscos à segurança e perda de pertences. “Para quem é sem-teto, é mais difícil tomar a PrEP, pois somos constantemente roubadas. Não é como se eu morasse em um apartamento e pudesse colocá-la em um armário de remédios. Eu mesma tinha uma bolsa em que guardava minhas roupas e meus comprimidos da profilaxia, mas fui furtada e acabei perdendo tudo”, relatou uma participante.
Fonte: site do Aidsmap, de 11 de maio de 2021.
Link para o estudo: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0277953621001416?via%3Dihub