HIV, IST e Outros

“Paciente de SP” apresenta recuperação viral um ano e meio após interromper o tratamento contra o HIV

Um brasileiro, que após 15 messes sem terapia antirretroviral, não apresentava nenhuma evidência de HIV remanescente, voltou a ter carga viral detectável. Essa foi a informaçãocontida em um relatório apresentado por Ricardo Diaz, da Universidade de São Paulo, na Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI), realizada virtualmente de 6 a 10 de março de 2021. O trabalho ainda está em andamento para determinar se o paciente sofreu um rebote viral ou reinfecção.

Conhecido como “Paciente de São Paulo”, o homem, de 35 anos, participou de um ensaio clínico que avaliou vários regimes de medicamentos combinados. O estudo tinha o objetivo de reduzir o tamanho do reservatório de HIV, considerado por especialistas a chave para uma cura funcional da infecção ou para apermanência de longos períodos sem medicamentos antirretrovirais.

O homem foi diagnosticado com HIV em outubro de 2012. Naquele momento, a sua carga viral atingiu mais de 20 mil cópias/mL. Quando entrou no estudo, em setembro de 2015, o paciente apresentava supressão viral em virtude de um tratamento que já durava dois anos. Dois antirretrovirais – o inibidor da integrase dolutegravir (Tivicay) e o inibidor de entrada do HIV maravirol (Celsentri) – foram adicionados ao seu regime padrão de três medicamentos. A nicotinamida, uma forma de niacida ou vitamina B3, também foi incluída. O paciente permaneceu nessa combinação por 48 semanas e em seguida voltou à terapia padrão.

Em março de 2019, ele interrompeu o tratamento, monitorado de perto por médicos e pesquisadores. Na Conferência AIDS 2020, Diaz relatou que, após mais de 15 meses, o homem continuava a ter HIV indetectável. Além disso, o seu nível de anticorpos havia diminuído consideravelmente, o suficiente para que um teste rápido de anticorpos fosse negativo.

Infelizmente, a condição de carga viral indetectável do paciente se reverteu. Em setembro de 2020, ele foi diagnosticado com sífilis. Nessa época, sua carga viral ainda estava abaixo do limite de detecção. Mas em 10 de novembro – 72 semanas após a interrupção do tratamento –,apresentou sintomas como febre, calafrios, dor de cabeça e diarreia. Nesse momento, descobriu-se uma carga viral superior a 6.300 cópias/mL. Seus anticorpos contra o HIV também começaram a aumentar.

Em comparação com a cepa de base do HIV, a cepa emergente tinha diferenças genéticas no envelope e nas proteínas Gag. A razão para isso ainda não está clara. As possibilidades incluem evolução viral dentro do corpo, reinfecção por uma nova cepa ou ressurgimento de cepas antigas da infecção anterior.

Sequenciamento genético adicional e análise de respostas de anticorpos estão em andamento em um esforço para determinar se o homem experimentou um verdadeiro rebote viral ou uma reinfecção.

No início de dezembro, o paciente reiniciou um esquema padrão, baseado no dolutegravir, e no primeiro dia de janeiro de 2021 a sua carga viral estava novamente indetectável.

Fonte: site do Aidsmap, de 17 de março de 2021.

(https://www.aidsmap.com/news/mar-2021/sao-paulo-patient-experiences-apparent-viral-rebound-year-and-half-after-stopping-hiv)