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Disparidades sociais e raciais associadas à impossibilidade de manter o distanciamento social durante a pandemia de Covid-19 entre HSH e populações trans/não-binárias no Brasil

O Brasil registra o segundo maior número de casos confirmados de Covid-19 no mundo. De 26 de fevereiro a 29 de junho de 2020, houve mais de 1 milhão e 300 mil casos e 57 mil mortes no país, que adotou medidas de distanciamento social em março passado para evitar a disseminação da epidemia e o colapso do sistema de saúde. Como essas medidas podem afetar desproporcionalmente indivíduos de minorias sexuais e raciais e também os mais pobres?

​Para responder a essas e outras questões, foi realizado o estudo “Disparidades sociais e raciais associadas à impossibilidade de manter distanciamento social durante a pandemia de Covid-19 entre homens cisgêneros que fazem sexo com homens (HSH) e populações transgêneras/não-binárias no Brasil”, conduzido por Thiago Torres, Brenda Hoagland e outros pesquisadores* do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e de outras instituições, e disponibilizado em forma de pôster na 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020, julho, EUA).

HSH e pessoas trans/não-binárias maiores de 18 anos foram recrutados por meio de anúncios no Hornet, Facebook e WhatsApp para participar de pesquisa na web durante abril e maio de 2020. Responderam a questões acerca de dados sociodemográficos, identidade de gênero, orientação sexual, autorrelato de infecção pelo HIV, uso de substâncias e impacto das medidas de distanciamento social devido à Covid-19. Também foi avaliada a impossibilidade de manter o isolamento social por qualquer motivo, como trabalho ou questões de moradia. O modelo de regressão logística foi utilizado para avaliar os fatores associados a essa impossibilidade. 

Dos 5.490 indivíduos que acessaram o questionário, 3.486 completaram o preenchimento. A idade média foi de 32 anos, sendo a maioria HSH, com ensino médio completo ou superior e renda média/alta. Quase metade era de não-brancos e 23% referiram viver com HIV.Entre os que relataram uso de álcool (63%), 30% aumentaram o seu uso durante o período de distanciamento social. Já os que afirmaram utilizar drogas ilícitas (23%), 30% aumentaram o seu uso.

A maioria afirmou que o distanciamento social havia impactado muito suas vidas (63%) e que sentia muito medo ou medo de contrair a Covid-19 (77%). O salário/emprego reduzido ou perdido foi o desafio mais relatado pelos entrevistados para se adequar às medidas de distanciamento social. Um total de 917 (26%) não conseguiu manter o distanciamento social. Não ser branco, ter menor escolaridade e menor renda aumentaram as chances de inatingibilidade de manter as medidas de distanciamento social quando ajustado por idade, sexo, orientação sexual, região e status autorreferido de infecção pelo HIV.

Entre as conclusões, a constatação de que a vida das minorias no Brasil foi bastante impactada por medidas de distanciamento social, provavelmente aprofundando desigualdades. As disparidades sociais e raciais estão associadas à inatingibilidade na manutenção do distanciamento social entre as minorias sexuais no Brasil. Políticas específicas de apoio social e econômico durante a pandemia da Covid-19 devem ser disponibilizadas para esses indivíduos.

*Autores do trabalho: Thiago Torres (1), Brenda Hoagland (1), Daniel Bezerra (1), A. Garner (2), Kim Geraldo (1), Lucilene Freitas (1), Sandra Wagner Cardoso (1), Emília Jalil (1), Lara Coelho (1), Alessandra Ramos (1), Josias Freitas (1), Marcos Benedetti (1), Cristina Pimenta (3), Beatriz Grinsztejn (1) e Valdiléa Veloso (1).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fundação Oswaldo Cruz – RJ,  Brasil

(2) Hornet INC – Londres

(3) Ministério da Saúde do Brasil

Para acessar o material apresentado na conferência: https://1395cf30-9035-4b27-b33f-738f50602472.filesusr.com/ugd/f93c93_77924eff51c64994a4a1fd0d962ceba0.pdf