Fatores associados ao engajamento e à adesão de longo prazo à PrEP entre mulheres trans no Brasil, México e Peru: resultados do estudo ImPrEP
A epidemia de HIV continua a impactar desproporcionalmente a população de mulheres trans latino-americanas. Nesse sentido, o Grupo de Estudos ImPrEP* desenvolveu uma análise focada nos fatores associados ao engajamento e à adesão de longo prazo à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV nessa população do Brasil, México e Peru. O trabalho foi publicado, em 12 de outubro de 2022, no Journal of the International AIDS Society.
Um total de 494 participantes (190 brasileiras, 66 mexicanas e 238 peruanas) foi incluído no estudo, realizado de março de 2018 a junho de 2021. Entre os critérios de inclusão, ser HIV negativa, ser maior de 18 anos, ter relato de sexo com parceiro vivendo com HIV, de sexo anal sem preservativo, de sexo transacional e/ou ter alguma infecção sexualmente transmissível (IST) nos seis anos anteriores ao estudo. As primeiras visitas de acompanhamento foram realizadas nas quatro semanas iniciais após a inclusão e, posteriormente, a cada três meses.
Por meio de regressão logística, identificaram-se fatores associados ao envolvimento de longo prazo com a PrEP (mais de três visitas de acompanhamento em 52 semanas) e adesão autorrelatada completa (nenhum comprimido esquecido no período de 30 dias). Para ambos os resultados, construíram-se modelos multivariáveis controlando país de origem, sociodemografia, comportamento sexual, uso de substâncias químicas, IST e adesão autorrelatada na quarta semana.
No início do estudo, 27,5% das participantes tinham entre 18 e 24 anos e 31,6% possuíam o ensino médio completo. Cerca de 69% se consideravam pardas. A maioria (89,9%) relatou sexo anal sem preservativo, 61,9% já ter feito sexo com mais de dez parceiros e 71,9% realizar sexo transacional. A incidência de HIV foi de 1,82 casos por 100 pessoas-ano.
Quase metade das voluntárias (48,6%) teve envolvimento de longo prazo com a PrEP. Segundo os pesquisadores, esse dado foi positivamente associado ao relato de adesão completa na quarta semana e negativamente associado ao sexo transacional e ao relato de sexo anal sem preservativo com parceiros com status de HIV desconhecido.
Os autores afirmam que, embora a população trans estivesse disposta a se inscrever no ImPrEP, a adesão de longo prazo à profilaxia e a adesão autorrelatada completa foram limitadas. A incidência de HIV continuou relativamente alta. De acordo com eles, uma agenda bem-sucedida de prevenção ao vírus deve incluir intervenções específicas que apoiem a PrEP oral e explorem estratégias para uso da profilaxia de longa duração.
Link para o artigo: https://doi.org/10.1002/jia2.25974
*Autores do trabalho:
Kelika Konda (1), Thiago Torres (2), Gabriela Marinho (1), Alessandra Ramos (2), Ronaldo Moreira (2), Iuri Leite (3), Marcelo Cunha (3), Emilia Jalil (2), Brenda Hoagland (2), Juan Guanira (1), Marcos Benedetti (2), Cristina Pimenta (4), Heleen Vermandere (5), Sergio Bautista-Arredindo (5), Hamid Vega Ramírez (6), Valdiléa Veloso (2), Carlos Cáceres (1) e Beatriz Grinsztejn (2), do Grupo de Estudos ImPrEP
(1)Centro de Investigações Interdisciplinares em Sexualidade, Aids e Sociedade, Universidade Peruana Cayetano Heredia, Lima, Peru
(2)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(3)Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(4)Ministério da Saúde do Brasil, Brasília, Brasil
(5)Instituto Nacional de Saúde Pública, Cidade do México, México
(6)Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de La Fuente Muñiz, Cidade do México, México
Fonte: site do Journal of the International AIDS Society, de 12 de outubro de 2022.
25/10/2022