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O uso de álcool e estimulantes afeta a percepção de risco ao HIV entre HSH

Desde 2018, a PrEP está disponível no Brasil pelo SUS. Uma vez que seu uso é voluntário, a disposição em fazer uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) depende da percepção de risco de cada um para contrair o HIV. Tal percepção depende de múltiplos fatores. Sabe-se, por exemplo, que o uso de bebidas alcoólicas e outros estimulantes favorecem práticas consideradas de risco para a infecção de HIV. No entanto, tais práticas, ocasionais ou não, nem sempre são acompanhadas da consciência sobre uma maior possibilidade de infecção.

Elaborado por Paula Luz e outros pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz e da Universidade McGill, do Canadá* o artigo “Comportamento sexual de alto risco, consumo excessivo de álcool e uso de estimulantes são experiências-chave no caminho para a percepção de alto risco de HIV entre homens que fazem sexo com homens no Brasil”, publicado na AIDS and Behavior (set/2020), buscou avaliar, entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), a relação entre percepção de risco e comportamento tomando como parâmetro o comportamento sexual e o uso de álcool e drogas estimulantes muitas vezes usadas em festas, como ecstasy, anfetaminas e cocaína. Contando com 16.667 HSHs participantes, o estudo foi feito a partir de resultados de um inquérito on-line.

A questão que avaliou a percepção de risco foi a seguinte: “Em sua opinião, qual é o seu risco de pegar HIV no próximo ano?”. Voluntários que relatavam haver praticado sexo anal sem camisinha como passivo nos últimos seis meses foram considerados em risco aumentado. A classificação de um uso abusivo de álcool ocorria quando o voluntário relatava haver tomado cinco doses ou mais de álcool no intervalo de duas horas nos últimos seis meses.

Cerca de 25% dos participantes acreditavam ter baixo risco de se infectar pelo HIV (baixa percepção de risco), contrastando com 40% que apresentaram alto risco de infectar. Dentro deste número, chamou  a atenção o fato de que os HSH mais jovens apresentarem menor percepção de risco. Ao menos um episódio de uso abusivo de álcool foi relatado por 70% dos voluntários, enquanto para o uso de drogas estimulantes o percentual foi de 20%.

De modo geral, HSH mais jovens tendiam a um maior uso abusivo de álcool, enquanto indivíduos autodeclarados brancos, mais velhos e com maior renda tendiam a fazer mais uso de drogas estimulantes. Apesar dessa correspondência entre faixa etária e o tipo de substância, a percepção de risco foi desigual, sendo baixa entre os jovens e maior entre o segundo grupo.

Os resultados do artigo demonstraram que embora tanto o álcool quanto outras drogas influenciem a probabilidade do comportamento e percepção de risco, a incidência dessas práticas sobre a percepção de risco atua de maneira diversa segundo o perfil de faixa etária ou socioeconômico. Tal resultado levanta a necessidade de um modo de atuação diferente de acordo com cada perfil.

Link para o artigo: https://doi.org/10.1007/s10461-020-03035-5

*Autores:

Paula Luz (1), Thiago Torres (1), Luana Marins  (1), Valdiléa Veloso (1) Beatriz Grinsztejn (1) Celline Brasil (2), Joseph Cox (2) e Erica Moodie (2),

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil;

(2)Universidade McGill, Montreal, Canadá.