Início e interrupção da PrEP entre travestis e mulheres transgênero nos EUA: resultados do estudo LITE
Estudo publicado na edição de dezembro de 2023 no Journal of the International AIDS Society buscou avaliar as taxas de início e interrupção da profilaxia pré-exposição (PrEP) entre travestis e mulheres transgênero nos Estados Unidos. Assim como no Brasil e em outras partes do mundo, este é um dos grupos mais vulneráveis ao HIV.
Conduzido por Erin Cooney, da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA) e outros pesquisadores, o LITE foi um estudo longitudinal de coorte e multicêntrico que contou com 1.312 travestis e mulheres trans com risco de infecção pelo HIV. As participantes foram acompanhadas demarço de 2018 a agosto de 2020 e respondiam a questionários a cada 3 ou 6 meses, acerca do uso, do início ou da interrupção da PrEP durante o estudo, que buscava também identificar fatores associados a cada uma dessas opções. Um subconjunto de 18 participantes realizou, ainda, entrevistas em profundidade.
Do total de voluntárias, 21,8% (286) relataram fazer uso da PrEP em uma ou mais visitas ao estudo, que constatou 139 inícios da profilaxia por 2.127 pessoas-ano (6,5 inícios/100 pessoas ano) e 138 interrupções por 368 pessoas-ano (37,5 interrupções/100 pessoas-ano). Foram considerados preditores para o início da PrEP se autoidentificar como negra e ter indicação para a profilaxia; já para a descontinuidade, os preditores incluíram ter educação de ensino médio ou inferior e ter iniciado a PrEP pela primeira vez durante a participação no LITE.
A partir dos dados quantitativos e qualitativos do estudo, foram criadas quatro tipologias de interrupção: (1) soroconversão após interrupção; (2) risco contínuo de aquisição do HIV após interrupção; (3) reavaliação da estratégia de prevenção de HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis após interrupção; e (4) uso dinâmico de PrEP coincidindo com mudanças no risco de aquisição do HIV.
O estudo constatou baixas taxas de iniciação e altas taxas de interrupção da PrEP. As tipologias estabelecidas permitiram identificar que as motivações para interromper a profilaxia não se associavam de maneira consistente à redução de risco de infecção do HIV.
Os autores do artigo reforçam a necessidade de intervenções direcionadas a apoiar e otimizar o uso da PrEP entre travestis e mulheres trans, juntamente com a adoção de métodos de ação prolongada da profilaxia, o que poderia evitar as interrupções por falta de adesão à modalidade oral diária.
Link para o artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jia2.26199