Na Índia, baixo conhecimento sobre as minorias sexuais e de gênero e o slogan indetectável = intransmissível
Ainda que na Índia programas de prevenção ao HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis sejam direcionados a minorias sexuais e de gênero, ainda há um desconhecimento sobre o número total dessa população no país. Isso porque, enquanto se concentram majoritariamente na realização de intervenções em locais físicos, tais programas deixam de fora parcelas dessas minorias que não os buscam de forma espontânea, subnotificando a real dimensão da epidemia de HIV na Índia.
Um artigo publicado no periódico AIDS and Behavior, em outubro de 2023, buscou acessar uma parcela mais ampla de minorias sexuais e de gênero a partir de aplicativos de encontros sexuais naquele país. Trata-se de estratégia fundamental para acessar aqueles que, devido a barreiras socioculturais, mantêm em segredo ou sofrem preconceito quanto à sua identidade sexual e de gênero.
Conduzido por Harsh Agarwal, da Escola de Saúde Pública Global UNC Gillings, dos Estados Unidos, e por outros colaboradores, como Thiago Torres, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz/RJ, o estudo investigou aspectos sociodemográficos e comportamento sexual entre gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, travestis e mulheres trans que acessavam o aplicativo Grindr. Por meio de questionário on-line, a análise dedicou-se, ainda, a avaliar a familiaridade dessa população com o slogan indetectável = intransmissível (I = I), no sentido de saber que indivíduos que vivem com HIV e possuem carga indetectável pelo uso de terapias antirretrovirais não transmitem sexualmente o vírus.
O questionário foi completado por 3.126 participantes elegíveis, com mais da metade (55,3%) nunca tendo revelado publicamente sua identidade sexual. A maioria (83,8%) relatou jamais ter tido contato com organizações que provêm serviços de prevenção ou tratamento de HIV. A prevalência do vírus entre a população pesquisada foi de 3,1%, e apenas 14% reportaram familiaridade com o slogan I = I. A partir da explicação do slogan pelo questionário, apenas 25% demonstraram confiança na informação. Fatores que estiveram associados ao conhecimento de I=I foram: saber o próprio status de HIV, já ter ouvido falar sobre a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV ou tê-la usado, ou haver praticado chemsex (sexo com uso de substâncias químicas). Quanto à PrEP, 93% jamais a haviam usado, 3,9% sim e 3,1% faziam uso no momento da participação na pesquisa.
Os resultados do estudo revelaram falta de conhecimento sobre minorias sexuais e de gênero na Índia, com a maioria dessa população não sendo atingida pelas ações governamentais e com baixo conhecimento acerca da prevenção do HIV. Programas de educação sobre I = I e incentivo à testagem e à prevenção do vírus se mostraram estratégias necessárias, assim como encontrar outros meios para acessar as minorias, como, por exemplo, via contatos on-line.
* Autores do artigo:
Harsh Agarwal (1), Karin Yeatts (1), Stephanie Chung (1), Jack Harrison-Quintana (2) e Thiago Torres (3).
(1) Escola de Saúde Pública Global UNC Gillings, Chapel Hill, EUA
(2) Grindr, West Hollywood, Califórnia, EUA
(3) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.