Polifarmácia e pessoas que vivem com HIV no Rio de Janeiro
Nas últimas décadas, a terapia antirretroviral (TARV) aumentou de modo significativo a expectativa de vida de pessoas que vivem com HIV. No entanto, sabe-se que o uso prolongado da TARV, aliado a fatores como envelhecimento, pode ter efeitos na saúde, levando, por exemplo, a comorbidades e outras complicações. Para indivíduos com comorbidades, é comum o uso simultâneo de múltiplos medicamentos, o que é conhecido como polifarmácia, que, por sua vez, levanta questões como adesão e uso correto das receitas prescritas, assim como risco da interação entre medicamentos.
Um artigo publicado em agosto de 2023 no periódico AIDS Research and Therapy investigou a polifarmácia entre pessoas que vivem com HIV que fizeram uso da TARV no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), da Fiocruz, no Rio de Janeiro, durante o ano de 2019. Conduzido por Robson Nascimento da Silva e outros pesquisadores do instituto*, o estudo teve como objetivo descrever o perfil farmacoterapêutico e estimar a prevalência da polifarmácia e seus fatores associados entre o público estudado.
A análise considerou a polifarmácia como o uso de cinco ou mais medicamentos prescritos simultaneamente além daqueles relacionados à TARV. Foram incluídas 4.547 pessoas com HIV que tiveram ao menos uma prescrição no INI/Fiocruz durante o período considerado. A maioria (2.958/65,1%) dos participantes se identificava como homens cisgênero, 1.365 (30%) como mulheres cis e 224 (4,9%) como travestis e mulheres transgênero.
A prevalência de polifarmácia foi de 50,6% no total de participantes. Os pesquisadores observaram que os medicamentos mais prescritos juntamente com a TARV foram relativos ao sistema nervoso (64,8%), seguidos de anti-infecciosos de uso sistêmico (60%), trato alimentar e metabólico (45,9%), sistema cardiovascular (40%) e aparelho respiratório (37,1%). Por sua vez, os fatores relacionados à polifarmácia foram: ser mais velho (50 anos ou mais), se identificar como mulher cis, possuir menos tempo de educação formal e ter sido diagnosticado com HIV há mais tempo.
Com altas taxas de polifarmácia entre as pessoas com HIV acompanhadas, o artigo sugere a necessidade de intervenções direcionadas a se evitar a interação entre determinados medicamentos e a criação de protocolos para a revisão contínua das receitas prescritas para cada paciente, o que pode evitar prescrições desnecessárias.
Link para o artigo: https://aidsrestherapy.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12981-023-00548-6
*Autores do artigo:
Robson Nascimento da Silva (1), Luana Marins (1), Lusiele Guaraldo (2), Paula Luz (1), Sandra Cardoso (1), Ronaldo Moreira (1), Vanessa Oliveira (3), Valdiléa Veloso (1), Beatriz Grinsztejn (1), Rita Estrela (1) e Thiago Torres (1).
(1) Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2) Laboratório de Pesquisa Clínica em Doenças Febris Agudas, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(3) Serviço de Farmácia, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.