PrEP, HSH e trans PrEP: tecnologia de prevenção

Etapa não cega do HPTN 083 confirma eficácia superior da PrEP injetável

Por Rodrigo Gonçalves

A profilaxia pré-exposição (PrEP) na modalidade injetável, baseada no cabotegravir de longa duração (CAB-LA), mostrou-se superior à PrEP baseada no fumarato de tenofovir desoproxila oral associado à entricitabina (TDF/FTC) na proteção ao HIV, em dois grandes ensaios clínicos duplo-cegos (HPTN 083 e HPTN 084). Pesquisa publicada em 9 de novembro de 2023, na revista The Lancet HIV, apresenta os mais recentes resultados do primeiro ano da etapa não cega do estudo HPTN 083, em análise liderada por Raphael Landovitz, da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (EUA), e demais colaboradores*, entre eles Beatriz Grinsztejn, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz.

Dos 4.488 voluntários da fase cega do HPTN 083, 3.290 também contribuíram para a primeira análise anual não cega do estudo, realizada de maio de 2020 a maio de 2021. Em ambas as etapas, os participantes eram gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) cisgênero e mulheres transgênero, de 43 centros de pesquisas localizados na África, Ásia, América Latina e Estados Unidos.

A incidência do HIV na fase cega do estudo foi de 0,41 por 100 pessoas-ano de acompanhamento no grupo da PrEP injetável baseada no CAB-LA e de 1,29 por 100-pessoas anos de acompanhamento no grupo da PrEP oral baseada no TDF/FTC. Já no primeiro ano da etapa não cega, a incidência do vírus foi de 0,82 por 100 pessoas-ano de acompanhamento para o CAB-LA e de 2,27 por 100 pessoas-ano de acompanhamento para o TDF/FTC.

A adesão aos dois medicamentos diminuiu a partir do momento em que o estudou deixou de ser cego. Nessa fase, as infecções por HIV no grupo do CAB-LA incluíram duas pessoas com adesão considerada adequada às injeções, três com uma ou mais injeções atrasadas, duas que abandonaram e retornaram às injeções e 11 com mais de seis meses de intervalo entre a última injeção e o diagnóstico.

A maioria das infecções foi associada a atrasos no diagnóstico e à resistência aos inibidores da integrase (INSTI). Os eventos adversos encontrados na fase não cega foram semelhantes aos registrados durante a análise cega, com exceção de casos de hipertensãoarterial queainda necessitam de investigação adicional.

De acordo com os autores, a PrEP injetável baseada no CAB-LA manteve a alta eficácia na proteção ao HIV em HSH cis e mulheres trans durante o primeiro ano de acompanhamento não cego do estudo HPTN 083. O prolongamento da análise também serviu para identificar atrasos nos diagnósticos do vírus e o surgimento da resistência aos INSTI.

Fonte: site da The Lancet HIV, de 9 de novembro de 2023.

(https://www.thelancet.com/journals/lanhiv/article/PIIS2352-3018(23)00261-8/fulltext#)

*Autores:

Raphael Landovitz (1), Brett Hanscom (2), Meredith Clement (3), Ha Tran (4), Esper Kallas (5), Manya Magnus (6), Omar Sued (7), Jorge Sanchez (8), Hyman Scott (9),Joe Eron (4), Carlos del Rio (10), Sheldon Fields (11), Mark  Marzinke (12), Susan Eshleman (12), Deborah Donnell (2), Mateus Spinelli (13), Ryan Kofron (1), Richard Berman (2), EstellePiwowar-Manning (12), Paul Richardson (12), Philip  Sullivan (12), Jonathan  Lucas (14), Peter  Anderson (15), Craig Hendrix (12), Adeola Adeyeye (16), James Rooney (17), Alex Rinehart (18), Myron  Cohen (4), Marybeth McCauley (1) eBeatriz Grinsztejn (19)

  • Centro de Pesquisa e Educação Clínica sobre Aids, Escola de Medicina David Geffen, Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA
  • Centro de Pesquisa do Câncer Fred Hutchinson, Seattle, EUA
  • Centro de Ciências da Saúde da Louisiana StateUniversity, Nova Orleans, EUA
  • Departamento de Comportamento de Saúde, Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill, Chapel Hill, EUA
  • Departamento de Doenças Parasitárias e Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil
  • Departamento de Epidemiologia, Escola de Saúde Pública do Instituto Milken, Universidade George Washington, Washington, EUA
  • Fundação Huésped, Buenos Aires, Argentina
  • Centro de Investigações Tecnológicas, Biomédicas e Medioambientais, Universidade Nacional Mayor de San Marcos, Lima, Peru
  • Departamento de Saúde Pública de São Francisco, São Francisco, EUA
  • Escola de Medicina da Universidade Emory e Sistema de Saúde Grady, Atlanta, EUA
  • Faculdade de Enfermagem Ross e Carol Nese, Universidade Estadual da Pensilvânia, University Park, EUA
  • Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Baltimore, EUA
  • Divisão de HIV, Doenças Infecciosas e Medicina Global, Universidade da Califórnia, São Francisco, São Francisco, EUA
  • FHI 360, Durham, Carolina do Norte, EUA
  • Escola Skaggs de Farmácia e Ciências Farmacêuticas, Anschutz Medical Campus, Aurora, EUA
  • Divisão de Aids, Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Bethesda, EUA
  • Gilead Sciences, Foster City, EUA
  • ViiV Healthcare, ResearchTriangle Park, Carolina do Norte, EUA
  • Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil