Espaço Trans PrEP, HSH e trans

Efeitos da interação entre PrEP e terapia hormonal feminizante

Dúvidas sobre possíveis impactos da interação entre a terapia hormonal feminizante e os medicamentos que compõem a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV podem servir de barreiras para o uso e a adesão da PrEP entre travestis e mulheres transgênero. Investigar possíveis adversidades e garantir a segurança das usuárias foi o objeto de estudo, conduzido por Vitória Berg Cattani, do Instituto Nacional de Infecrtologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros colaboradores*, publicado na edição de junho de 2023 no periódico Clinical Pharmacokinetics.

O trabalho analisou possíveis alterações na farmacocinética da terapia hormonal feminizante, ou seja, a dinâmica de funcionamento dos medicamentos no organismo na interação com a PrEP. A pesquisa contou com um subgrupo de voluntárias do PrEParadas (19 das 130 participantes), projeto ocorrido entre agosto de 2017 e janeiro de 2020 direcionado a avaliar a aceitabilidade da PrEP oral (emtricitabina + tenofovir) com travestis e mulheres trans residentes no Rio de Janeiro e região metropolitana.

Antes de começarem a usar a PrEP oferecida pelo PrEParadas, as participantes tiveram uma primeira avaliação farmacocinética 15 dias após o início da terapia hormonal feminizante (com valerato de estradiol associado à espironolactona), por meio de amostras de sangue. Uma segunda avaliação ocorreu 12 semanas após o início da profilaxia.

Comparando a presença dos medicamentos da terapia hormonal feminizante no início e no final da avaliação, os autores constataram que a concentração do estradiol no sangue não foi alterada; já a espironolactona sofreu ligeira diminuição, mas não em quantidade significativa para alterar os efeitos da terapía.

Os resultados do estudo demonstraram não haver interferência da PrEP em relação à terapia hormonal feminizante, o que reforça a segurança da profilaxia para travestis e mulheres trans no enfrentamento ao HIV.

Artigo disponível em: https://link.springer.com/article/10.1007/s40262-023-01248-0

* Autores do artigo:

Vitória Berg Cattani (1), Emilia Jalil (1), Leonardo Eksterman (1), Thiago Torres (1), Sandra Cardoso (1), Cristiane Castro (1), Laylla Monteiro (1), Peter Anderson (3), Valdiléa Veloso (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Rita Estrela (1,4).

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2) Universidade da Califórnia, São Francisco, EUA

(3) Universidade do Colorado, Aurora, EUA

(4) Faculdade de Farmácia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil