Cascatas de prevenção e tratamento do HIV junto a jovens HSH são temas de estudo do INI/Fiocruz
Como se sabe, a profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV e a terapia antirretroviral (TARV) estão disponíveis universalmente no Brasil por meio do Sistema Único de Saúde. No entanto, a epidemia de HIV continua a afetar especialmente jovens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH). Estudo conduzido por Cristina Jalil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, e outros colaboradores*, avaliou as cascatas de prevenção e o tratamento do HIV entre jovens HSH brasileiros de 18 a 24 anos. A análise foi apresentada, em forma de pôster, na 23ª Conferência da International AIDS Society sobre Ciência do HIV (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho, em Brisbane, na Austrália.
Usando dados do estudo de amostragem chamado Projeto Conectad@s, realizado no Rio de Janeiro, de novembro de 2021 a outubro de 2022, os pesquisadores avaliaram o status de HIV, os resultados de PrEP, a utilização de TARV e a supressão virológica entre jovens HSH. Foram oferecidas PrEP ou TARV no mesmo dia da inscrição para os participantes do estudo.
No total, foram recrutados 409 jovens HSH, dos quais 40 (9,8%) viviam com HIV e 369 (90,2%) eram HIV negativos. A média de idade foi de 21 anos e 70,3% se autodeclararam negros/pardos/indígenas. Entre os jovens HSH vivendo com o vírus, 50% tinham consciência do status sorológico, 47,5% estavam em TARV e 42,5% apresentavam supressão viral. A TARV no mesmo dia foi iniciada por 95% dos indivíduos recém-diagnosticados com HIV.
Entre os participantes HIV negativos, 90,4% conheciam a PrEP, 85,6% desejavam utilizá-la, 2,4% já a haviam usado e apenas 0,8% estavam tomando a profilaxia naquele momento. A elegibilidade para PrEP foi de 88,1% e 246 (75,7%) indivíduos iniciaram a PrEP no ato da inscrição. Entre os 79 voluntários que optaram por não iniciar a PrEP, 54 não demonstraram interesse e 25 usavam a profilaxia pós-exposição (PEP) ao HIV.
Os principais resultados apontam que menos da metade dos jovens HSH que viviam com o vírus apresentava supressão viral, com uma proporção considerável de desconhecimento do status de HIV, e que, apesar da alta conscientização, disposição e elegibilidade para PrEP, poucos participantes do estudo já a usavam. Para os pesquisadores, as principais barreiras que a população estudada enfrenta para acessar os serviços de saúde são a homofobia e o estigma. Os serviços de prevenção/atendimento precisam abordar essas barreiras para responder da forma devida às necessidades desse público.
*Autores do trabalho:
Cristina Jalil (1), Thiago Torres (1), Emilia Jalil (1), Rodrigo Oliveira Scarparo (1), Daniel Nazareth (1), Gabriela Teixeira Ribeiro (1), Sabrina Barbosa de Sousa (1), Driele Silva Cerqueira (1), Jonathas Douglas Nunes Lima (1), Daniel Bezerra (1), Brenda Hoagland (1), Sandra Cardoso (1), Sean Arayasirikul (2), Erin Wilson (2), Valdiléa Veloso (1), Willi McFarland (2) e Beatriz Grinsztejn (1)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil
(2)Centro de Pesquisa em Saúde Pública, Departamento de Saúde Pública de São Francisco, São Francisco, EUA