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Artigo compara terapias recomendadas de antirretrovirais de primeira linha para o HIV

No Brasil, a terapia antirretroviral (TARV) para o tratamento da infecção pelo HIV é oferecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde desde 1996. Contando com diversas combinações de medicamentos, o uso da TARV segue as diretrizes dos Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas (PCDT), do Ministério da Saúde, em sintonia com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Um artigo, assinado por pesquisadoras da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca e do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), ambos da Fiocruz, entre outros colaboradores*, e publicado na edição de março de 2023 do periódico AIDS Care, comparou a eficácia entre os medicamentos de TARV recomentados pela OMS e os adotados pelo PCDT na primeira linha de tratamento. Os dados foram obtidos a partir de pessoas que vivem com HIV que iniciaram a terapia antirretroviral no INI/Fiocruz de janeiro a dezembro de 2018.

A TARV inicial de primeira linha inclui a combinação de três antirretrovirais, sendo dois inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos e um antirretroviral de outra classe. As autoras do artigo dividiram a TARV em quatro grupos a partir dessa classe complementar de antirretrovirais: (1) inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos; (2) inibidores da protease;(3) inibidores de transferência da fita integrase; e dose fixa combinada (tenofovir 300mg + lamivudina 300 mg + efavirenz 600mg).

As diretrizes nacionais em relação à TARV variaram ao longo do tempo, com uma predominância de inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos, de 2008 a 2014, de dose fixa combinada, de 2015 a 2016, e de inibidores de transferência da fita integrase, de 2017 a 2018.

A eficácia da TARV foi avaliada dentro de seis ou 12 meses após o seu início, tendo sido considerado eficaz possuir uma carga viral de HIV≤ 50 cópias/mL no momento da avaliação. No total, o trabalho incluiu 3.270 pessoas com HIV, com a seguinte distribuição de usos de regimes terapêuticos de TARV entre os pacientes:

  • inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos: 1.863 (57%)
  • inibidores da protease: 652 (19,9%)
  • inibidores de transferência da fita integrase: 412 (12,6%)
  • dose fixa combinada: 342 (10,5%)

Apesar do número significantemente maior em termos de inibidores da transcriptase reversa não nucleosídeos, os regimes que fizeram uso de inibidores de transferência da fita integrase demonstraram uma eficácia 76% maior nos seis primeiros meses, mas não consideravelmente superior no período de 12 meses. Segundo as autoras, uma das razões pelo qual os regimes com inibidores de transferência da fita integrase possuem maior eficácia é devido à maior tolerabilidade e menores efeitos colaterais.

O artigo comparou, ainda, o perfil das pessoas vivendo com HIV, buscando encontrar outros fatores que contribuíram para a eficácia da TARV além da combinação de medicamentos. Constatou-se que ter mais idade, possuir ensino superior, contagem de linfócitos ≤ 500 células/mm3 e carga viral < 100.000 cópias/mL no momento de iniciação da TARV foi associado a ter maiores probabilidades de supressão da carga viral nos períodos avaliados.

Os resultados do artigo reforçam a necessidade de um monitoramento mais próximo para os grupos com menores probabilidades de eficácia em relação à TARV durante o primeiro ano, como as pessoas com HIV mais jovens, com menor escolaridade e estágio de infecção mais avançado.

Link para o artigo: https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/09540121.2023.2190954

*Autoras do artigo:

Glaucia Meireles (1), Aline Nobre (2), Sandra Cardoso (3), Luciane Velasque (4), Valdiléa Veloso (3), Beatriz Grinsztejn (3) e Paula Luz (3)

(1) Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(2) Programa de Computação Científica, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(3) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil

(4) Centro de Ciências Exatas e Tecnologia, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil