PrEP: tecnologia de prevenção

Artigo investiga casos de infecção por HIV durante a participação no estudo HPTN 083

Tendo como público-alvo gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens, travestis e mulheres transgênero, o estudo HPTN 083 investigou a eficácia e aceitabilidade do cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) como profilaxia pré-exposição (PrEP), chegando à eficácia comprovada de 91% para prevenir o HIV. Mesmo com esse ótimo resultado, entender os motivos das infecções ocorridas durante o estudo é um passo fundamental para o aprimoramento da eficácia do CAB-LA, bem como para compreender seus limites.

Durante a fase cega do estudo HPTN 083, ocorreram 58 infecções por HIV – 16 no braço do CAB-LA e 42 no braço do TDF/FTC (uso oral). Já durante a fase aberta, houve 52 infecções – 18 no braço do CAB-LA e 34 no braço TDF/FTC.

Um trabalho assinado por Mark Marzinke, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, e Beatriz Grinsztejn, do INI/Fiocruz, entre outros colaboradores*, e publicado na edição de abril de 2023 do periódico Antimicrobial Agentsand Chemotherapy*, investigou os 18 casos de infecção entre os voluntários que faziam uso do CAB-LA durante a fase aberta do HPTN 083. Segundo os autores, os demais casos de infecção foram analisados por eles em estudo anterior.

No atual artigo, foi possível distinguir e buscar compreender as diferentes situações de infecção. Para isso, os casos analisados foram classificados em grupos de acordo com a situação de administração do CAB-LA durante o momento de infecção. Um especial foco de atenção foram os casos que questionavam a eficácia do CAB-LA quando a aplicação da injeção estava em dia, quando ela se encontrava em atraso (com mais de 70 dias) e quando, após alguma interrupção pontual, os voluntários voltavam a fazer PrEP com CAB-LA, se encontrando infectados no momento da re-injeção.

Para os dois casos analisados de infecção com cronograma de injeções em dia, uma investigação farmacocinética constatou uma absorção mais rápida do CAB-LA pelo organismo do que em casos usuais de aplicação do medicamento. Os outros 16 casos analisados pelo artigo ocorreram entre voluntários com injeção em atraso ou descontinuadas.

Os eventos em que os pacientes receberam injeção de CAB-LA já estando infectados também foram debatidos. Tal situação requer cuidado especial, pois o medicamento de prevenção para o HIV nesses indivíduos pode estimular a resistência do vírus e provocar novas mutações.

O artigo aponta que essas ocorrências poderiam ter sido evitadas com um método de testagem de HIV como o do PCR, capaz de detectar a presença do vírus ainda em estágio de infecção recente. O teste rápido de HIV a cada visita de aplicação de injeção é um protocolo do HPTN 083 e, por isso, nem todos os centros utilizavam o PCR. Já que a demanda pela implementação desse teste requer um custo considerável, os autores concluem que mais estudos sobre a viabilidade e a relevância do PCR são necessários.

Link para o artigo: https://journals.asm.org/doi/10.1128/aac.00053-23

*Autores do artigo:

Mark Marzinke (1,2), Jessica Fogel (1), Zhe Wang (3),Estelle Piwowar-Manning (1), Ryan Kofron (4), Amber Moser (1), Pradip Bhandari (1), RyannGollings (1), Lane  Bushman (5), Lei Weng (3), Elias Halvas (6), John Mellors (6),Peter Anderson (5), Deborah Persaud (7), Craig Hendrix (8), MarybethMcCauley (9), Alex Rinehart (10), Marty St Clair (10), SEUA.n L. Ford (11), James Rooney (12), AdeolaAdeyeye (13), SuwatChariyalertsak (14), Kenneth Mayer (15, 16), Roberto Arduino (17), Myron S. Cohen (18), Beatriz Grinsztejn (19), Brett Hanscom (3), Raphael Landovitz (20)e Susan Eshleman (1).

(1) Departamento de Patologia, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Maryland, EUA.

(2) Departamento de Medicina, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Maryland, EUA.

(3) Centro de Pesquisa em Câncer Fred Hutchinson, Washington, EUA.

(4) Departamento de Medicina, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA.

(5) Departamento de Ciências Farmacêuticas, da Universidade do Colorado, Aurora, EUA.

(6) Departamento de Medicina, da Universidade de Pittsburgh, Pensilvânia, EUA.

(7) Departamento de Pediatria, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Maryland, EUA.

(8) Departamento de Farmacologia Clínica, da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, Maryland, EUA.

(9) FHI 360, Carolina do Norte, EUA.    

(10) ViiV Healthcare, Research Triangle Park, Carolina do NorteEUA.     

(11) GlaxoSmithKline, Research Triangle Park, Carolina do Norte, EUA. 

(12) Gilead Sciences, Califórnia, EUA. 

(13) Programa de Prevenção e Ciência, Divisão de Aids, Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, Institutos Nacionais de Saúde, Maryland, EUA.

(14) Instituto de Pesquisa para Ciência e Saúde, da Universidade Chiang Mai, Tailândia.

(15) Instituto The Fenwaye, Fenway Health, Massachusetts, EUA.          

(16) Departamento de Medicina, da Escola de Medicina Harvard, Massachusetts, EUA.         

(17) Departamento de Medicina Interna, Escola de Medicina McGovern, da Universidade do Texas, Centro de Ciência e Saúde, Houston, Texas, EUA.  

(18) Departamento de Medicina, da Universidade da Carolina do Norte, Chapel Hill, Carolina do Norte, EUA. 

(19) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, da Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(20) Centro de Pesquisa e Educação Clínica em Aids, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, EUA.