PrEP, HSH e trans PrEP: temas gerais

Simpósio ImPrEP na IAS 2023: apresentando o ImPrEP CAB Brasil

O estudo ImPrEP CAB Brasil teve como principal destaque na 12ª Conferência da International AIDS Society (IAS 2023), realizada de 23 a 26 de julho de 2023, em Brisbane, na Austrália, o simpósio satélite “Preparação para a implementação da PrEP com cabotegravir injetável de longa duração – o projeto ImPrEP CAB Brasil“, ocorrido no dia 24.

Como o próprio nome do simpósio indicava, a apresentação mais aguardada era a da pesquisadora principal do projeto, Beatriz Grinsztejn, intitulada “Estudo ImPrEP CAB Brasil”, com a descrição dos principais objetivos e resultados pretendidos. Iniciou traçando um panorama da epidemia de HIV no país, onde mais de 930 mil pessoas vivem com o vírus, das quais cerca de 700 mil estão em uso da terapia antirretroviral. Desse total, 36,7% são mulheres transgênero e 18,4% gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH).

Dissertando sobre alternativas de prevenção ao HIV, Beatriz informou que o Brasil é um dos países com o maior número de usuários da profilaxia pré-exposição (PrEP) na modalidade oral no mundo. Destacou a importância da fase inicial do projeto ImPrEP, realizado no Brasil, Peru e México de 2018 a 2021, voltado à implementação da PrEP oral, que contou com 14 centros de 11 cidades brasileiras, em quatro centros de três cidades mexicanas e em dez centros de seis cidades peruanas.

A pesquisadora apresentou dados de um survey de 2018, realizado  com HSH dos três países, que mostrava que 35% preferiam a PrEP oral e 23% a modalidade sob demanda (PrEP 2+1+1). Em seguida, exibiu dados de outra pesquisa, de 2021, também com HSH e que incluiu mulheres trans, que apontou que 75% dos participantes estavam dispostos a utilizar a PrEP injetável.

CAB-LA

Após essa introdução, Beatriz passou a apresentar informações relativas ao estudo com o cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA) no Brasil. O objetivo é descrever a escolha inicial de PrEP (oral ou injetável), a captação, a adesão às visitas das injeções, as trocas e as descontinuidades entre os participantes. Outro objetivo é gerar evidências para servirem de subsídios para a formatação de políticas públicas para a implementação da PrEP injetável como mais uma alternativa de prevenção ao HIV no  SUS, em especial para as minorias sexuais e de gênero.

O estudo estima a participação de 1.200 indivíduos HSH, travestis, pessoas trans ou não-bináries, HIV negativos, entre 18 e 30 anos de idade e que estejam em busca de PrEP pela primeira vez. Para isso, serão disponibilizados seis serviços públicos de saúde em seis cidades brasileiras (Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Salvador, Florianópolis e Manaus).

Beatriz também informou que o estudo teve seu protocolo aprovado na Organização Mundial da Saúde e foi protocolado na Anvisa. Em relação a possíveis soroconversões durante o período de acompanhamento, as pessoas serão encaminhadas a iniciar imediatamente a terapia anterretroviral e serão monitoradas durante um ano.

O desenvolvimento de um material de mHealth, ferramenta de autoaprendizagem sobre opções de PrEP e cuidados de saúde, desenvolvida em forma de aplicativo, foi o tema seguinte abordado. Segundo a pesquisadora, foram produzidos vídeos curtos, similares aos disponibilizados na rede social Tik Tok, com uma linguagem simples e adaptada às minorias sexuais e de gênero.

Sobre o engajamento de steakholders (públicos interessados) do estudo, Beatriz citou como principais ações os encontros realizados com representantes da comunidade LGBTI+ para disseminar informações e colher opiniões relativas ao projeto, além de reuniões periódicas com integrantes do Ministério da Saúde para garantir a consolidação da parceria e coordenar esforços.

Beatriz prosseguiu abordando os estudos qualitativos conduzidos pela equipe do projeto para avaliar a eficácia da ferramenta mHealth e analisar a aceitabilidade do serviço de mensagens via WhatsApp, com lembretes sobre as datas das injeções aos participantes interessados em recebê-las. A metodologia utilizada foram discussões de grupos focais com HSH, mulheres trans, pessoas não-bináries e profissionais  de saúde. Ao todo, aconteceram 14 reuniões em todas as cidades do estudo.

O mapeamento de processos foi o assunto seguinte. Foram criados três mapas para cada centro de saúde participante do estudo visando a descrever a visita de inscrição do usuário de CAB-LA, visitas de acompanhamento e o fluxo laboratorial. Beatriz informou que, como parte de um plano de gerenciamento de qualidade de dados, um representante da equipe do ImPrEP CAB Brasil estará presente em cada serviço público de saúde no momento da inscrição do primeiro participante. As atividades de treinamento também mereceram destaque na explanação da pesquisadora, que ressaltou a importância das capacitações presenciais e virtuais já realizadas com as equipes.

Afirmou, ainda, que os centros estão totalmente equipados com os suprimentos necessários para as visitas do estudo e anunciou a formação do Comitê de Gestão Clínica, para apoiar decisões sobre a gestão em relação à detecção e acompanhamento de infecções sexualmente transmissíveis. Outra novidade é a utilização do RedCap, plataforma para gerenciamento de dados que garantirá que os processos fundamentais sejam concluídos.

A pesquisadora finalizou a apresentação destacando o sistema de dados desenvolvido e testado para o estudo. Explicou que se trata de um sistema personalizado e dedicado ao gerenciamento de amostras de laboratório, desenvolvido para ser utilizado nos serviços de saúde pública e no laboratório central. Também disse que um módulo para dispensação e controle de estoque de CAB-LA foi adicionado ao Siclon, sistema do Ministério da Saúde para logística e gestão de medicamentos antirretrovirais.