HIV, IST e Outros

Mortalidade de pessoas com HIV é investigada a partir dos critérios de gênero e orientação sexual

Mesmo com o êxito da terapia antirretroviral (TARV) e o acesso universal aos medicamentos para o tratamento do HIV, a persistência de casos de mortalidade relacionados à infecção pelo vírus levanta questões sobre suas possíveis causas. Motivos mais evidentes podem derivar, por exemplo, do início tardio da TARV devido a um diagnóstico também tardio ou de um início não imediato após um resultado positivo. 

Para traçar um perfil mais preciso sobre o tema, um artigo conduzido por Lara Coelho, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), do Rio de Janeiro, e outros pesquisadores*, buscou detectar fatores associados segundo os critérios de gênero e orientação sexual. O artigo foi publicado na edição março/abril de 2023 do periódico The Brazilian Journal of Infectious Diseases. Os dados foram obtidos a partir de 5.576 pessoas que vivem com HIV que fizeram uso da TARV, disponibilizada pela Fiocruz, de 2000 a 2018.

Com idade média de 35 anos, 39% dos participantes eram gays, bissexuais e outros homens cisgênero que fazem sexo com homens (HSH), 28% mulheres cis, 23% homens que fazem sexo com mulheres, 5% travestis e mulheres trans e 5% homens cis de orientação sexual desconhecida. No período abrangido pela pesquisa, ocorreu um total de 795 mortes.

O estudo constatou uma porcentagem de mortalidade maior entre homens cis de orientação sexual desconhecida e de homens que fazem sexo com mulheres, possivelmente causada pela falta de rotina de testagem para HIV e início tardio da TARV – ao contrário do grupo de HSH, numericamente superior em termos de participantes, mas que costuma realizar testagem para HIV com mais frequência, o que contribui para a possibilidade de início imediato da terapia.

Um dado importante enfatizado pelos autores do artigo foi a baixa mortalidade entre travestis e mulheres trans vivendo com HIV. Tal fato foi atribuído aos programas desenvolvidos pelo INI/Fiocruz desde 2016 voltados especificamente para essa população, com ações de engajamento para tratamento de HIV, bem como para a sua prevenção, como as profilaxias pré e pós-exposição (PrEP e PEP).

O resultado de maior mortalidade entre homens cis que fazem sexo com mulheres e homens cis de orientação sexual desconhecida aponta para a necessidade de políticas de conscientização desses grupos visando a uma rotina de testagem, prevenção e cuidados de HIV.

Link para o artigo: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1413867023000016

* Autores do artigo:

Lara Coelho (1), Thiago Torres (1), Emilia Jalil (1), Sandra Cardoso (1), Ronaldo Moreira (1), Guilherme Calvet (1), Antônio Pacheco (2), Valdiléa Veloso (1), Beatriz Grinsztejn (1) e Paula Luz (1)

(1) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.

(2) Programa de Computação Científica, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil.