Pesquisa da IeDEA avalia êxitos e limitações no enfrentamento do HIV no cenário da pandemia de Covid-19
O período inicial da pandemia de Covid-19, especialmente de 2020 a 2021, impôs alterações radicais no cotidiano em nível global. Seguidas em maior ou menor grau, medidas de isolamento social comprometeram diversos setores, afetando economia, educação e saúde. No caso dos tratamentos de saúde, por requererem visitas contínuas e periódicas a clínicas, hospitais e centros de saúde, as restrições trazidas pela pandemia impuseram diversos desafios, como readequação de espaços, fornecimento de equipamento de segurança à equipe de trabalho e a pacientes, e, por vezes, cancelamento de novos tratamentos.
Buscando entender alterações em tratamentos de HIV durante a pandemia, a equipe da International Epidemiology Databases to Evaluate AIDS (IeDEA) realizou pesquisa com vários centros de tratamento de HIV, tendo publicado artigo, em dezembro de 2022, no Journal of the International AIDS Society (Ellen Brazier, da Universidade da Cidade de Nova York, e outros*). O IeDEA acompanhou 238 centros de tratamento em sete regiões geográficas das Américas, África e Ásia, de setembro de 2020 a março de 2021, com o objetivo de detectar e apontar êxitos, limitações e falhas durante esse período.
A título de comparação, a pesquisa coletou de cada centro dados relativos ao funcionamento antes do início da pandemia. Para avaliar as alterações de rotina, questionários foram enviados aos locais, com questões respondidas de forma completa por 225 unidades de 42 países. Dois parâmetros importantes de classificação foram estabelecidos: a divisão entre centros localizados em ambientes com a prevalência de HIV baixa, média e alta; e centros situados em países de renda baixa, média ou alta.
A maioria dos locais (75%) relatou ter tido algum tipo de restrição relacionada à pandemia, especialmente quanto a deslocamento, serviços prestados, fornecimento de medicamentos, diminuição no horário de atendimento e outras limitações operacionais. O uso da telemedicina como estratégia de manter o atendimento foi também mencionado por quase todos os centros em locais de baixa prevalência de HIV, assim como em países de renda alta.
Quase todos os locais (92%) declararam aumento do uso de equipamentos de proteção pessoal como resposta à pandemia. Vinte e seis por cento suspenderam a testagem e os serviços de diagnóstico de HIV, e 10% apontaram suspensão da inscrição de novos pacientes nos serviços de cuidado – números concentrados especialmente em países de baixa renda.
Quanto ao fornecimento de medicamentos para a terapia antirretroviral (TARV), muitos centros adotaram medidas de adaptação para estimular a adesão: 80% relataram fornecer doses adicionais de medicamentos da terapia para reduzir a necessidade de visita aos locais; já 23% criaram pontos alternativos de entrega da TARV para reduzir a necessidade e o percurso de viagens.
Em geral, os autores do artigo observaram eficiência dos centros em introduzir ou expandir medidas para estimular a adesão aos medicamentos e a continuidade do tratamento, em especial quando localizados em ambientes com alta prevalência de HIV. No entanto, foram notados, em todos os cenários, impactos relativos ao acompanhamento e à testagem da carga viral de pacientes e fornecimento da TARV, que por vezes tiveram os estoques de remédios esgotados. Estar atento a essas fragilidades é fundamental para monitorar o desenvolvimento e o controle da epidemia de HIV nos próximos anos.
Link para o artigo: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1002/jia2.26036
*Autores do artigo:
Ellen Brazier (1,2), Rogers Ajeh (3), Fernanda Maruri (4), Beverly Musick (5), Aimee Freeman (6), C. William Wester (4), Man-Po Lee (7), Tinei Shamu (8,9), Brenda Crabtree Ramírez (10), Marcelline d’Almeida (11), Kara Wools-Kaloustian (5), N. Kumarasamy (12), Keri N. Althoff (6), Christella Twizere (13), Beatriz Grinsztejn (14), Frank Tanser (15), Eugène Messou (16), Helen Byakwaga (17), Stephany N. Duda (18, 19) e Denis Nash (1, 2)
(1)Instituto de Ciência de Implementação em Saúde da População, Universidade da Cidade de Nova York, EUA
(2)Escola de Pós-Graduação em Saúde Pública e Políticas de Saúde, Universidade da Cidade de Nova York, EUA
(3)Consultoria e Rede de Educação em Pesquisa Clínica, Yaoundé, Camarões
(4) Departamento de Medicina, Divisão de Doenças Infecciosas, Centro Médico Universitário Vanderbilt, Nashville, EUA
(5)Departamento de Bioestatística e Ciência de Dados em Saúde, Escola de Medicina da Universidade Indiana, EUA
(6)Departamento de Epidemiologia, Escola de Saúde Pública Bloomberg, Universidade Johns Hopkins, Maryland, EUA
(7)Hospital Rainha Elizabeth, Hong Kong, China
(8)ClínicaNewlands, Harare, Zimbábue
(9)Instituto de Medicina Social e Preventiva, Universidade de Bern, Suíça
(10)Departamento de Infectologia, Instituto Nacional de CiênciasMédicas e Nutrição, Cidade do México, México
(11)Centro Nacional Hospitalar, Universidade Hubert K. Maga, Cotonou, Benin
(12)VHS Centro Médico de Doenças Infecciosas, Serviços Voluntários de Saúde, Chennai, Índia
(13)Centro Nacional de Referência de HIV/Aids, Bujum-bura, Burundi
(14)Laboratório de Pesquisa Clínica em DST/Aids, Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fiocruz, Rio de Janeiro, Brasil
(15)Instituto de Pesquisa em Saúde da África, Universidade de KwaZulu-Natal, Durban, África do Sul
(16)ACONDA – Centro de Apoio, Investigação e Formação, Abidjan, Costa do Marfim
(17)Universidade de Ciência e Tecnologia Mbarara, Mbarara, Uganda
(18)Departamento de Informática Biomédica, Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Tennessee, EUA
(19)Instituto de Pesquisa Clínica e Translacional Vanderbilt, Centro Médico da Universidade Vanderbilt, Tennessee, EUA