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Pesquisa aborda a relação entre comprometimento cognitivo e qualidade de vida em pessoas que vivem com HIV

Um estudo, liderado por Kate Alford, da Brighton Medical School, no Reino Unido, deu uma nova visão sobre o impacto na realidade cotidiana das pessoas que vivem com HIV e apresentam algum grau de deficiência cognitiva.  A pesquisa, publicada em 5 de julho, na revista Quality of Life Research, mostrou como o problema afeta a capacidade de autogerenciamento e a conexão social dos participantes.

Os pesquisadores recrutaram 125 pessoas vivendo com HIV. Todos frequentavam clínicas especializadas de Londres ou Brighton, faziam tratamento antirretroviral e apresentavam comprometimento cognitivo significativo. Os profissionais de saúde encaminharam os voluntários para o estudo após confirmarem que eles eram capazes de consentir a própria participação. O comprometimento cognitivo dos entrevistados foi classificado como leve, moderado ou grave.

A idade dos voluntários variou entre 35 e 80 anos (mediana de 56). Quase todos eram homens brancos britânicos e apenas oito se definiam como negros africanos. Eles viviam com o vírus há uma média de 17 anos, a maior parte estava desempregada e tinha baixos rendimentos.

Alguns participantes descreveram os efeitos prejudiciais do comprometimento cognitivo em suas atividades do dia a dia, como tarefas domésticas, o controle de medicamentos e o uso de tecnologia: “Não posso mais utilizar o caixa eletrônico porque guardo o cartão mas esqueço o dinheiro. Deixo de tomar meus remédios quase que diariamente. Perdi a capacidade de fazer muita coisa. Sinto-me decepcionado comigo mesmo”, disse um homem com deficiência grave.

Também aconteceram relatos de como as dificuldades cognitivas afetaram a memória, a concentração e, consequentemente, o senso de autogerenciamento: “De vez em quando, a minha cabeça fica horas girando sobre a mesma coisa. É um sentimento de incapacidade, frustração e ansiedade. Não consigo distinguir o que fiz do que deveria fazer”, contou uma mulher com comprometimento moderado.

O afastamento social completo ou uma socialização restrita também são consequências do comprometimento cognitivo. “Você acaba, aos poucos, se livrando dos amigos. Comecei a me distanciar e, com o tempo, percebi que não tinha ninguém próximo de mim. Conviver comigo está cada vez mais difícil”, afirmou um homem com deficiência leve.

De acordo com os autores, esse estudo oferece uma compreensão do comprometimento cognitivo que vai além da prevalência, fatores de risco e características clínicas que as pesquisas normalmente cobrem.  O ensaio fornece informações sobre as realidades cotidianas de se viver com HIV e deficiência cognitiva, o que pode ajudar os médicos a entenderem o impacto do problema e melhorarem o atendimento e a comunicação com o paciente.

Fonte: site da revista Quality of Life Research, de 5 de junho de 2022.

(https://link.springer.com/article/10.1007/s11136-022-03150-x)