Simpósio ImPrEP/AIDS 2022: O ImPrEP e o estudo de implementação do cabotegravir injetável de longa duração
Ficou a cargo da co-pesquisadora principal do ImPrEP, Beatriz Grinsztejn, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/ Fiocruz, do Brasil, apresentar o trabalho “O ImPrEP e o estudo de implementação do cabotegravir injetável de longa duração (CAB-LA)” no simpósio satélite “Evidências sobre a implementação da PrEP na América Latina: resultados do projeto ImPrEP”, promovido pelo projeto na 24ª Conferência Internacional de AIDS (AIDS 2022), realizada de 29 de julho a 2 de agosto, em Montreal, Canadá.
Beatriz iniciou sua apresentação exibindo os resultados da fase 2b/3 do estudo HPTN 083. O ensaio, randomizado, duplo-cego e realizado em 43 locais de todo o mundo (Brasil, Argentina e Peru na América do Sul), reuniu gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans maiores de 18 anos, com mais de cinco parceiros sexuais, usuários de substâncias químicas ou estimulantes, com boa saúde e sem contraindicações para injeções na região dos glúteos.
No total, 2.287 participantes foram randomizados para o braço do CAB-LA e a mesma quantidade foi alocada no braço da PrEP oral, baseada no tenofovir/emtricitabina (TDF/FTC). No final, foram 25 casos de HIV entre os participantes que tomaram a PrEP injetável de longa duração e 72 no grupo da PrEP oral. As incidências foram, respectivamente, de 0,54% e 1,57%. A eficácia do CAB-LA foi considerada superior em 66%.
Em seguida, a pesquisadora revelou as conclusões de outro estudo que envolveu a modalidade injetável de longa duração da profilaxia: o HPTN 084. Esse ensaio, realizado apenas com mulheres cisgênero, com status de HIV negativo, contou com 1.956 participantes no braço do CAB-LA e 1.942 no grupo do TDF/FTC. Ao encerramento da pesquisa, foram encontradas três infecções por HIV entre aquelas que tomaram a PrEP injetável de longa duração (incidência de 0,15%) e 36 no braço da PrEP oral (incidência de 1,85%). As mulheres do grupo do CAB-LA tiveram 88% menos chance de infecção pelo HIV.
Beatriz prosseguiu informando que, em 2021, 42% do público HSH da América Latina preferia a PrEP injetável de longa duração, enquanto 35% a PrEP oral mensal e 23% a PrEP sob demanda (PrEP 2+1+1). No Brasil, um experimento de escolha discreta com 3.924 HSH e mulheres trans, realizado entre setembro e dezembro de 2020, concluiu que a modalidade de longa duração também é a preferida no país. Os principais motivos alegados foram o maior nível de proteção, a inexistência de efeitos colaterais e a apresentação mais discreta do medicamento.
Em seguida, a pesquisadora falou sobre o estudo do CAB-LA no Brasil a ser conduzido pelo ImPrEP. Beatriz começou enumerando os objetivos do trabalho, que buscará produzir dados visando a otimização da sua oferta no país, identificar facilitadores e barreiras para a devida implementação junto ao público dos serviços de saúde e avaliar a eficácia do medicamento na redução do risco de infecção pelo HIV.
A população da pesquisa, a ser realizada em seis centros de estudo ImPrEP (Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas, Salvador, Florianópolis e Manaus), será formada por HSH, pessoas não binárias e pessoas trans com status negativo de HIV com idade de 18 a 30 anos . Os participantes deverão ter praticado sexo anal passivo com pelo menos um homem nos seis meses anteriores à inclusão e nunca terem feito uso de nenhum tipo de PrEP. Aqueles que optarem por iniciar a profilaxia injetável de longa duração no mesmo dia, ao invés da modalidade oral diária, vão escolher entre receber lembretes por WhatsApp para as próximas consultas ou apenas agendar e comparecer ao serviço de saúde nas datas programadas.
Finalizando o estudo, os profissionais de saúde responderão a entrevistas aprofundadas para revelar suas experiências na integração do CAB-LA com o serviço de PrEP e vão opinar sobre o papel das ferramentas digitais para aconselhamento e orientação acerca da escolha da modalidade da profilaxia.