PrEP: temas gerais

Valdiléa Veloso apresenta situação da PrEP nos países emergentes no Latin & Inter Regional Forum On Emerging Topics in HIV 2022 (AIDS 2022)

Promovido em 28 de julho, o Latin & Inter Regional Forum On Emerging Topics in HIV 2022foi um evento independente afiliado à AIDS 2022 (conferência que está sendo realizada em Montreal, Canadá, de 29 de julho a 2 de agosto). Um dos destaques do evento, que reuniu especialistas da Espanha, Argentina, Estados Unidos, México e Arábia Saudita, foi a participação da diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fiocruz e pesquisadora principal do ImPrEP, Valdiléa Veloso, que discorreu sobre a Situação Atual de PrEP nos Países Emergentes.

Valdiléa iniciou a apresentação lembrando que, em 2021, houve1,5 milhão de novas infecções pelo HIV no mundo. Na América Latina, essas novas infecções continuam a atingir as populações mais vulneráveis, como gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans – em algumas localidades, o percentual chega a 33%.  Em relação às mulheres trans, a prevalência, em dados coletados de 1999 a 2015, apontam médias variadas por países: no Brasil, Argentina e Peru, acima de 33%, México, Paraguai e Uruguai superior a 22%, El Salvador em torno de 20% e  Colômbia, 13%.

No mundo todo, o uso da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV vem subindo: de cerca de 104 mil iniciações em 2016 para mais de 2,8 milhões em julho de 2022. Na República Dominicana, por exemplo, houve um salto de 500 registros, em 2017, para 25 mil em 2022; no Haiti, de 2 mil para 14 mil, no mesmo período. Já o Brasil registrou uma média mensal de usuários de PrEP, em junho de 2022, de mais de 40 mil, contra os 7 mil iniciais de 2019.

Em relação à testagem para o HIV, uma pesquisa on-line do projeto ImPrEP promovida em 2021 junto a HSH e mulheres trans de Brasil, México e Peru apontou que uma média de 22% dos entrevistados nunca foram testados para o HIV e cerca de 35% realizaram teste anti-HIV seis meses antes do estudo. Essa mesma pesquisa mostrou significativa conscientização acerca da PrEP nos três países; já em relação à disposição em fazer uso da profilaxia, os índices variaram entre 50% e 70%.

Em seguida, a pesquisadora aprofundou os dados sobre o estudo de demonstração ImPrEP, realizado de 2018 a 2021 no Brasil, México e Peru, visando oferecer subsídios aos governos nacionais para a plena implementação da PrEP oral diária. O estudo envolveu cerca de 9.500 participantes, entre HSH e mulheres trans, com idade mediana de 25 a 34 anos, com cor da pele/raça autodeclarada como parda e com nível educacional superior ao secundário. A maioria dos participantes foi incluída em razão da visita às unidades de saúde à procura de PrEP e boa parte relatou fazer sexo anal sem preservativo, registrando, ainda, baixa desistência precoce e alta adesão ao medicamento.

Valdiléa informou, também, que o ImPrEP entra agora em nova fase, com estudo de demonstração no Brasil sobre PrEP injetável (cabotegravir de longa ação) junto a HSH, mulheres e homens trans e pessoas não-binárias,  com o mesmo objetivo de levantar informações e dados para a implementação de uma política pública no país.

Finalizando a apresentação, a pesquisadora principal do ImPrEP afirmou que, apesar dos avanços, o nível de implementação da PrEP na região ainda está muito aquém das metas globais e que as desigualdades acentuadas limitam os benefícios da PrEP aos mais vulneráveis. Segundo ela, são necessárias abordagens culturalmente adaptadas e que estratégias de PrEP de longa ação poderão contribuir para a superação de algumas das barreiras enfrentadas por essas populações visando a prevenção da infecção pelo HIV.

“É preciso enfrentar os determinantes sociais e o processo saúde-doença, bem como fortalecer políticas públicas voltadas para a prevenção do HIV. Só com informação e uma resposta baseada em evidências científicas é possível combater o estigma e a discriminação que ainda sustentam essa epidemia”, concluiu.