Leis de divulgação do HIV podem aumentar a violência contra mulheres
A maioria das mulheres que vivem com HIV no Canadá relata históricos de violência verbal, física e/ou sexual por parte dos parceiros. Essa foi a principal descoberta de um estudo conduzido por Sophie Patterson, da Simon Fraser University, em Burnaby, e publicado em fevereiro de 2022 na revista Women’s Health.
De acordo com o ensaio, 20% das mulheres, especialmente as indígenas e negras, disseram que as leis de divulgação do HIV no país contribuem para o aumento de práticas de violência – no Canadá, a não divulgação do status positivo de HIV é considerada crime, a menos que seja usado preservativo nas relações sexuais e que a carga viral da pessoa infectada seja inferior a 1.500 cópias/ml.
O estudo recrutou, por meio de redes sociais e clínicas especializadas, mulheres com 16 anos ou mais, vivendo com HIV, em Ontário, Quebec e Colúmbia Britânica, totalizando 619 participantes. Os pesquisadores deram atenção especial ao recrutamento de mulheres jovens, trans, indígenas e usuárias de drogas, grupos comumente sub-representados em trabalhos similares.
A maioria era branca (41%), seguida de africanas/negras/caribenhas (38%) e indígenas (15%). A idade média foi de 46 anos. Cinquenta e cinco por cento nasceram no Canadá, 88% se identificaram como heterossexuais e 33% relataram estar em um relacionamento estável.
No geral, 21% concordaram que as leis de divulgação do HIV contribuíram para o aumento de práticas violentas por parte de parceiros. Na regressão logística multivariada, as mulheres de etnia africana/negra/caribenha eram mais propensas a sofrer atos de violência, assim como aquelas que tinham moradia instável ou com problemas elevados de estigma.
Cerca de 37% das mulheres optaram por não fazer sexo com um novo parceiro por causa das leis. Vinte por cento revelaram seu status positivo de HIV aos parceiros na frente de uma testemunha por causa da preocupação com possíveis reações violentas. Essa prática foi maior entre as mulheres que informaram aumento da violência em decorrência das leis (39%), em comparação com aquelas que não o fizeram (16%).
Segundo os autores, as leis de divulgação do HIV, apresentadas como protetoras, estão prejudicando as mulheres que vivem com o vírus e eliminando a possibilidade de uma vida amorosa sem medo de violência. Eles reforçam a importância de práticas que combatam o estigma e reafirmem os direitos sexuais das mulheres, por meio de mensagens transformadoras e baseadas em evidências científicas.
Fonte: site do Aidsmap, de 8 de junho de 2022.
Link para o estudo: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/17455065221075914