PrEP, HSH e trans

PrEPARADAS: apesar de alta retenção, estudo mostra baixa adesão à PrEP entre mulheres trans brasileiras

O objetivo do estudo PrEPARADAS foi avaliar a captação, adesão e retenção de mulheres trans à profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV no Brasil. Conduzido por Emilia Jalil, do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), e colegas*, o estudo foi realizado entre agosto de 2017 e dezembro de 2018 e publicado, em 7 de março de 2022, no Journal of the International AIDS Society.

Inicialmente, foram inscritas 271 mulheres trans envolvidas em comportamentos de alto risco para o HIV. A adesão à PrEP foi medida por meio de concentrações de fosfato de tenofovir em manchas de sangue seco (DBS). Foram usados modelos de regressão logística de efeitos aleatórios e modelos ordinais para estimar as chances de uma visita perdida e de baixa adesão à profilaxia, respectivamente.

Do total de voluntárias selecionadas, 130 foram incluídas no estudo (captação de 48%), das quais 109 (85,4%) permaneceram no programa durante 48 semanas. O modelo multivariável para não comparecimento à visita incluiu idade, parceiro sexual principal e uso de estimulantes. As chances de se perder uma consulta aumentaram após a semana 24. Participantes de 18 a 24 anos e de 25 a 34, em comparação com maiores de 35 anos, tiveram mais possibilidade de ter uma visita perdida. Entre as usuárias de estimulantes, a chance de se ausentar de uma consulta também foi maior.

Os níveis de medicamento de PrEP medidos nas amostras de sangue armazenadas em cartões DBS na semana 48 mostraram que 42 (38,5%), 14 (12,8%) e 53 (48,6%) das 109 voluntárias apresentaram baixa, moderada e alta retenção à PrEP, respectivamente. O modelo multivariável para baixa adesão incluiu idade, escolaridade, raça/cor, moradia, consumo excessivo de álcool, uso de estimulantes, utilização de terapia hormonal feminilizante e mensagem de texto recebida. A baixa adesão foi significativamente maior entre as pessoas com menos escolaridade e teve associação limítrofe com raça/cor negra. Não aconteceram soroconversões durante o estudo.

Embora a alta retenção na profilaxia possa ser alcançada em serviços de apoio à afirmação de gênero, como os ambulatórios trans, a adesão é um importante desafio a ser enfrentado pelas mulheres trans devido às disparidades sociais. A ampliação de ferramentas de prevenção ao HIV, como a PrEP, terá que abordar determinantes sociais sistêmicos, que representam barreiras reais para o acesso aos serviços de saúde.

Fonte: site do Journal of the International AIDS Society, de 7 de março de 2022.

(https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jia2.25896)

*Autores do estudo: Emilia Jalil (1), Thiago Torres (1), Paula Luz (1), Laylla Monteiro (1), Ronaldo Moreira (1), Cristiane de Castro (1), Iuri Leite (2), Marcello Cunha (2), Rita de Cássia Elias Estrela (1), Michelle Ramos (1), Brenda Hoagland (1), Sandra Wagner Cardoso (1), Peter Anderson (3), Valdiléa Veloso (1), Erin Wilson (4) e Beatriz Grinsztejn (1)

(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz), Rio de Janeiro

(2)Escola Nacional de Saúde Pública, Fiocruz, Rio de Janeiro

(3)Universidade do Colorado, Aurora, Colorado (EUA)

(4)Departamento de Saúde Pública de São Francisco, São Francisco, Califórnia (EUA)