PrEP, HSH e trans

Estudo do ImPrEP analisa papel da saúde mental na adesão à PrEP

Não há dúvida de que a profilaxia pré-exposição (PrEP) é uma estratégia eficaz de proteção do HIV e que cumpre papel fundamental junto a populações mais vulneráveis como gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres trans e travestis, públicos-alvo do projeto ImPrEP. Também já se sabe que o bem-estar da saúde mental e o uso de substâncias diminuem a adesão ao tratamento antirretroviral, mas o seu papel com relação à PrEP ainda não está claro.

O estudo “Saúde mental e adesão à PrEP entre HSH e pessoas não-cisgênero da América Latina”, conduzido pelo pesquisador principal do ImPrEP no México, Hamid-Vega Ramírez e outros colaboradores*, e apresentado em forma de pôster na 24ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2022), realizada virtualmente de 12 a 24 de fevereiro, buscou avaliar a associação do bem-estar, depressão, uso de substâncias e outras características com a aceitação à profilaxia.

Essa é uma análise secundária de uma pesquisa on-line realizada no Brasil, Peru e México, de maio a agosto de 2021, onde foi explorada a disposição de usar diferentes modalidades de PrEP. Foi usada uma subamostra de usuários da PrEP oral diária e foram avaliados dados sociodemográficos, escores de bem-estar e depressão em saúde mental, comportamento sexual, uso de álcool e uso de substâncias. Os participantes eram maiores de 18 anos, HSH ou pessoas não-cisgênero. A adesão à PrEP oral diária foi avaliada com base no autorrelato do número de comprimidos tomados por semana no mês anterior e dicotomizada em dois grupos: adesão perfeita (sete comprimidos por semana) e adesão não perfeita (menos de sete comprimidos por semana).

Da amostra de 1.415 usuários desse esquema de PrEP, 1.313 responderam ao questionário. Oitenta e sete por cento eram do Brasil, 10,3% do México e 2,6% do Peru. A idade média foi de 34 anos. A maioria (98,3%) era HSH e tinha o ensino médio completo ou mais anos de estudo (79,9%). Foi relatada a adesão perfeita à profilaxia por 93,2% dos participantes, sendo 23% classificados como deprimidos.

No geral, a adesão perfeita foi associada ao bem-estar em saúde mental, maior número de parceiros sexuais e uso regular de aplicativos de redes sociais. Por outro lado, pessoas com quadro de depressão e com apenas um parceiro sexual tendem a não ter a mesma adesão.

De acordo com os autores, apesar dos resultados apresentados, ainda não é possível afirmar que variáveis como o bem-estar e a depressão sejam decisivas no que diz respeito à aceitação da PrEP oral diária. Porém, pode-se dizer que questões comportamentais/relacionais, como a quantidade de parceiros sexuais, estão associadas à adesão da profilaxia.

*Autores do estudo:

Hamid Vega-Ramirez (1), Centili Guillén-Díaz-Barriga (1), Dulce Diaz (1), Kelika A. Konda (2), Thiago S. Torres (3), Oliver A. Elorreaga (2), Brenda Hoagland (3), Juan V. Guanira (2), Marcos R. Benedetti (3), Sergio Bautista-Arredondo (4), Beatriz Grinsztejn (3), Carlos F. Caceres (2) e Valdilea Veloso (3)

(1) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de La Fuente, México

(2) Universidad Peruana Cayetano Heredia, Peru

(3) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Brasil

(4) Instituto Nacional de Salud Pública, Cidade do México, México