ImPrEP apresenta estudo sobre adesão de longo prazo à PrEP
Embora pessoas cisgênero e transgênero sofram com o ônus da epidemia de HIV na América Latina, a oferta da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV na região ainda é limitada. O ImPrEP desenvolveu estudo de demonstração acerca da implementação da profilaxia para avaliar a viabilidade e a segurança de se iniciar a PrEP entre gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH), mulheres trans e travestis no Brasil, Peru e México.
Os resultados do engajamento de longo prazo com a profilaxia e a incidência de HIV foram relatados no estudo “Adesão de longo prazo da PrEP entre HSH, mulheres trans e travestis – o estudo ImPrEP”, liderado pela pesquisadora principal do projeto Valdiléa Veloso e outros colaboradores*, e apresentado em forma de pôster na 24ª Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI 2022), realizada virtualmente de 12 a24 de fevereiro.
Representantes das populações HSH e, trans, maiores de 18 anos e com pelo menos um fator de risco para o HIV, foram selecionados para participar do estudo. As pessoas selecionadas foram incluídas no programa de PrEP e imediatamente receberam, na primeira consulta, comprimidos da profilaxia suficientes para 30 dias. As visitas de acompanhamento foram agendadas para a quarta semana após a inclusão e, a partir de então, trimestralmente.
De março de 2018 a junho de 2021, 9.522 participantes (3.928 do Brasil, 3.301 do México e 2.293 do Peru) foram incluídos. No geral, 26% tinham idade média entre 18 e 24 anos, 94,3% eram HSH, 5,7% mulheres trans, 76% completaram pelo menos o ensino médio, 98,2% relataram sexo anal sem preservativo, 17,3% disseram realizar trabalho sexual e 57,7% tiveram mais do que cinco parceiros sexuais. Mais de 68% se apresentaram para as visitas de acompanhamento durante o período de 52 semanas, com cerca de 9% comparecendo apenas à consulta de inclusão.
Participantes com idade entre 18 e 24 anos, com ensino médio incompleto, mulheres trans e profissionais do sexo do Peru e do México foram significativamente menos propensos a comparecer às visitas de acompanhamento, enquanto aqueles com mais de dez parceiros sexuais, que fazem sexo anal receptivo sem preservativo e com adesão completa até a quarta semana tiveram maior propensão em participar das consultas. A incidência de HIV foi de 0,84 por100 pessoas-ano. O Peru foi o país que registrou a maior incidência, principalmente entre pessoas de 18 a 24 anos e mulheres trans. Os brasileiros, além de comparecerem mais às visitas de acompanhamento, apresentaram um menor índice de infecções por HIV.
O estudo conclui que a PrEP iniciada no dia da inclusão é viável e segura entre as populações de HSH e mulheres trans e travestis na América Latina. O comparecimento para as visitas de acompanhamento foi alto e as medidas restritivas da Covid-19 podem explicar parcialmente as diferenças entre os países. A análise aponta, ainda, que os níveis sociais e estruturais de risco de HIV precisam ser abordados para que a PrEP possa beneficiar um público cada vez maior.
*Autores do estudo:
Valdiléa Veloso(1), Ronaldo I. Moreira(1), Kelika A. Konda(2), Brenda Hoagland(1), Hamid Vega-Ramirez(3), Iuri C. Leite(4), Juan V. Guanira(2), Sergio Bautista-Arredondo(5), HeleenVermandere(5), Marcos R. Benedetti(1), Maria Cristina Pimenta(6), Thiago S. Torres(1), Beatriz Grinsztejn(1), Carlos F. Caceres(2)
(1)Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Brasil
(2)Universidad Peruana Cayetano Heredia, Peru
(3)Instituto Nacional de Psiquiatria Ramón de La Fuente, México
(4)Escola Nacional de Saúde Pública, Brasil
(5)Instituto Nacional de Salud Pública, México
(6) Ministério da Saúde, Brasil