Traumas impactam atendimento de adolescentes que vivem com HIV no Quênia
O trauma é uma das principais razões para os adolescentes do Quênia se desligarem dos serviços de cuidados com o HIV, relatou Leslie Enane, da Universidade de Indiana (EUA), na edição de abril de 2021 do Journal of the International AIDS Society. Estudo conduzido por ela mostra que os adolescentes que vivem com HIV sofriam uma ampla gama de traumas e eram diretamente afetados por preconceitos, estigmas e problemas de saúde mental.
Globalmente, 1,7 milhão de adolescentes, com idade entre 10 e 19 anos, vivem com o HIV. A maioria encontra-se na África Subsaariana, incluindo cerca de 110 mil que habitam no Quênia. Embora as taxas de mortalidade entre adultos e crianças tenham diminuído nos últimos anos, nessa população, a quantidade de óbitos continua constante. Doenças relacionadas à Aids são a principal causa da morte de jovens no continente africano e a segunda principal causa no mundo.
Os pesquisadores recrutaram adolescentes que estavam abandonando os cuidados com o HIV no Hospital de Ensino e Referência Moi eno Hospital Distrital de Kitale, ambos localizados no oeste do Quênia. Entre os 42 adolescentes incluídos no estudo, 62% eramdo sexo feminino com idade entre 13 e 19 anos. A maioria (67%) tinha pelo menos um de seus pais falecidos. Cerca de 60% relataram insegurança alimentar.
Também participaram do estudo 34 cuidadores (pais, avós, irmãos mais velhos, tias e tios) e 28 profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos). Todas as entrevistas foram conduzidas por pesquisadores fluentes em suaíli, o idioma local, ou inglês.
Os pesquisadores definiram um elemento traumático como “experiências potencialmente fatais ou altamente estressantes, que minam a sensação de segurança”. Isso incluiu violência física, morte de entes queridos, doenças graves e discriminação.
O trauma sexual foi uma experiência recorrente entre aqueles que se desligaram dos cuidados com o HIV. “Umdos jovens foi abusado sexualmente por um padre. Ele costumava se sentir muito mal quando vinha à clínica. Na hora de iniciar o tratamento antirretroviral, era como se aquela realidade votasse a sua mente mais uma vez”, relatou uma enfermeira.
A violência contínua entre parceiros também foi apontada como uma barreira para o envolvimento mais constante com os cuidados. “A gente testou para o HIV e descobriu juntos. Então, ele ligou para a minha mãe e disse que ia me matar. Quando encontrava meus remédios, jogava fora. Se eu dissesse que ia à clínica, ameaçava me bater”, disse uma participante de 19 anos.
A maioria dos adolescentes relatou experiências de estigma, o que contribuiu diretamente para o abandono dos cuidados. “Na escola, alguns dizem a uma das garotas: ‘vá embora, seu pai morreu dessa doença e você também tem’. Às vezes, ela passa mal e perde o interesse de vir à clínica”, explica um cuidador.
Os pesquisadores concluíram que os traumas contribuem diretamentepara o agravamento da saúde mental, baixa adesão e o desligamento dos cuidados com o HIV. Afirmam que os profissionais de saúde precisam considerar e abordar o estigma, bem como reforçar o apoio social e familiar para os adolescentes vulneráveis.
Fonte: site do Aidsmap, de 7 de junho de 2021.
(https://www.aidsmap.com/news/jun-2021/impact-trauma-must-be-acknowledged-adolescent-hiv-care)
Link para o estudo:https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/jia2.25695/ful