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Em Uganda, estudo aponta que a PrEP vai além da proteção do HIV

A profilaxia pré-exposição (PrEP) vai além da prevenção do HIV, de acordo com trabalhadoras do sexo de Kampala, em Uganda. Foi essa a conclusão que chegou Rachel Kawuma, da Unidade de Pesquisa MRC/UVRI e LSHTM daquele país, e outros pesquisadores, em artigo publicado na SSM Population Health (Science Direct). O artigo aborda estudo que começou em 2018 e que apresentou vários motivos para fazer o uso da PrEP, sendo o principal deles gerar mais renda e manter a confiança e a intimidade nos relacionamentos, já que o sexo era feito sem preservativo.

O estudo buscou entender como as mulheres viam a PrEP  se encaixando em suas vidas e como elas viam suas próprias ‘candidaturas’ para usar a profilaxia. As participantes demonstraram uma relação mais sutil com a PrEP, indo além do comportamento de alto risco ao HIV advindo do trabalho sexual que as tornavam elegíveis para recebê-la.

Foram recrutadas mulheres que recebiam a PrEP mensalmente por meio do Good Health for Women Project, que oferece serviços de prevenção ao HIV e cuidados de saúde a mulheres com 18 anos, ou mais, vulneráveis ​​a infecções sexualmente transmissíveis (IST), em especial ao HIV por meio de trabalho sexual. Elas fizeram uma série de quatro entrevistas, começando um mês após o início da PrEP e novamente aos 6, 12 e 18 meses seguintes.

As 30 participantes, com maioria de idade de 20 a 40 anos, informaram ter um parceiro fixo com quem mantinham vínculo, descrito como namorado ou marido. Dessas 30 mulheres, 26 eram mães solteiras. Vinte e seis mulheres dependiam do trabalho sexual como sua principal fonte de renda, enquanto quatro faziam trabalho sexual quando uma renda extra era necessária.

Todas as mulheres relataram os preservativos como principal forma de prevenção do HIV antes de aprenderem sobre a PrEP e, ao mesmo tempo, observaram muitos desafios para o uso consistente do preservativo, já que era difícil  negociá-lo nas relações com maridos e namorados. A PrEP foi vista favoravelmente como um meio de manter essa confiança e intimidade – bem como de prevenir o HIV.

Uma vez que o uso do preservativo foi identificado como uma barreira, a PrEP passou a ser uma alternativa mais atraente. O uso do álcoolfoi apontado pelas participantes como uma forma de ajudar a ter mais relações sexuais por noite, mas também como uma barreira para a adesão consistente à PrEP. Quando as mulheres começaram a utilizar a profilaxia, foram encorajadas a continuar usando o preservativo por seus provedores de saúde. Vale ressaltar que muitas mantiveram o preservativo por terem a percepção de que a PrEP poderia não oferecer proteção.

Na terceira entrevista, conduzida um ano após o início da PrEP, a maioria relatou não usar mais preservativos. Um fator importante nessa descontinuidade foi a renda extra gerada por ter relações sexuais sem preservativo com clientes, chamada de ‘sexo ao vivo’. 

Três participantes relataram uma infecção sexualmente transmissível durante o estudo, no entanto foi sinalizado o fácil acesso ao tratamento, o que significa que o risco de IST foi considerado insignificante em comparação com o poder aquisitivo extra e a prevenção do HIV oferecida pela PrEP.

Fonte:

Aids Map: https://www.aidsmap.com/news/apr-2021/more-prevention-prep-enhances-income-trust-and-intimacy-uganda

Science Direct: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2352827321000215?via%3Dihub