O engajamento precoce em PrEP entre mulheres trans na América Latina: a experiência ImPrEP
Mulheres trans são uma população-chave no contexto da epidemia mundial de HIV. Embora a profilaxia pré-exposição (PrEP) seja recomendada pela Organização Mundial da Saúde para impedir a infecção pelo HIV entre indivíduos com risco substancial, a inclusão para PrEP entre essa população específica tem sido baixa, globalmente.
O estudo “O engajamento precoce em PrEP entre mulheres trans na América Latina: a experiência ImPrEP”, assinado pela equipe do projeto*, disponibilizado em forma de pôster na 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020, julho, EUA), teve como objetivo explorar as características da linha de base associadas ao engajamento precoce registrado em relação às mulheres trans.
A análise incluiu todas as participantes que se autodefiniram como mulheres trans inscritas no ImPrEP, estudo de demonstração da PrEP para avaliar a viabilidade do fornecimento do medicamento oral diário para essa população e para gays/outros homens que fazem sexo com homens com alto risco de HIV no Brasil, México e Peru. O envolvimento precoce foi definido como o retorno para a primeira visita de acompanhamento marcada de 15 a 60 dias após a inscrição.
Os dados coletados retratam informações sociodemográficas, fatores de risco associados à aquisição do HIV, como sexo anal sem preservativo, e uso anterior da PrEP ou da profilaxia pós-exposição (PEP). As participantes realizaram testes de sífilis, gonorreia e clamídia anais. Na análise bivariada, o efeito de cada covariada foi estimado controlando-se por país. Covariáveis significativas a 10% foram selecionadas para uma análise multivariada.
Até 31 de dezembro de 2019, o ImPrEP registrava 480 mulheres trans (49% do Peru, 38,3% do Brasil e 12,7% do México), com idade média de 29 anos, a maioria com ensino médio completo (71%). Nos seis meses anteriores, o número médio de parceiros sexuais foi de 20, com 89,6% relatando sexo anal sem preservativo, 4,6% sexo com um parceiro vivendo com HIV e 68,5% durante o trabalho sexual. A prevalência de sífilis, gonorreia e de clamídia anais foi de 18,1%, 14,7% e 17,8%, respectivamente, detectada no momento da inclusão no estudo. O engajamento precoce das mulheres trans, até 15 de março de 2020, foi de 71,1%. Ter mais que o ensino médio e buscar a PrEP foram associados a uma maior chance de retenção precoce.
Entre as conclusões, a necessidade de maiores e mais criativos esforços para melhorar a retenção precoce da PrEP entre as mulheres trans, que continuam a ter acesso limitado aos direitos humanos básicos – na amostra, apenas 29% tinham mais do que o ensino médio. Esforços são especificamente necessários para essas mulheres com baixo nível educacional e que apresentam comportamentos de risco, como sexo desprotegido com parceiros de status desconhecido de HIV. As razões para uma menor retenção precoce entre as participantes do Peru exigem exploração adicional. A educação para a prevenção do HIV, incluindo a PrEP, pode colaborar no sentido de melhorar o conhecimento acerca da profilaxia, ajudando na sua aceitação e continuidade precoce.
*Autores do trabalho assinado pela equipe de estudos ImPrEP: Juan Vicente Guanira (1), Kelila Konda (2), Alessandra Ramos (3), Ronaldo Ismerio Moreira (3), Igor Leite (3), Brenda Hoagland (3), Marcos Benedetti (3), G. Mariño (2), Marcus Vinicius Lacerda (4), Beatriz Grinsztejn (3), E. Hamid Vega-Ramirez (5), Carlos Cáceres (2) e Valdiléa Veloso (3).
(1) Inmensa, Peru
(2) Universidade Peruana Cayetano Heredia
(3) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/Fundação Oswaldo Cruz – RJ, Brasil
(4) Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, Amazonas, Brasil
(5) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de la Fuente Muñiz, México
Para acessar o material apresentado na conferência: https://1395cf30-9035-4b27-b33f-738f50602472.filesusr.com/ugd/f93c93_1df5a3b15c2140d18d44736f82c92816.pdf