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A expansão da PrEP na América Latina deveria visar aumentar a consciência entre indivíduos elegíveis para prevenir a recusa e fornecer apoio aos novos usuários para evitar a descontinuidade precoce

Apesar da alta eficácia da profilaxia pré-exposição (PrEP) ao HIV, sua implementação tem sido lenta em todo o mundo. Embora os programas gratuitos de PrEP na América Latina estejam finalmente sendo configurados, a sua adoção e/ou continuidade podem ficar abaixo do ideal, implicando em perdas de oportunidades de prevenção. 

​O trabalho “A expansão da PrEP na América Latina deveria aumentar a consciência entre indivíduos elegíveis para prevenir a recusa e fornecer apoio aos novos usuários para evitar descontinuidade precoce”, assinado pela equipe ImPrEP*, apresentado em forma de pôster na 23ª Conferência Internacional de Aids (Aids 2020, julho, EUA), avaliou a ocorrência e os motivos da recusa da PrEP no Peru, um dos países que compõem o projeto. Também foi explorado o fenômeno da descontinuidade precoce entre os que aceitaram participar do estudo.

No Peru, desde 2018, o ImPrEP tem como públicos-chave gays/outros homens que fazem sexo com homens (HSH) e mulheres trans adultos para o uso diário de PrEP oral em nove clínicas públicas de infecções sexualmente transmissíveis (IST) e uma privada. Os indivíduos elegíveis, que relataram eventos de sexo anal sem preservativo com parceiros desconhecidos, realizaram trabalho sexual, tiveram histórico recente de IST ou relações sexuais com parceiros que vivem com HIV, foram encaminhados para o teste de HIV ou para conhecer melhor a PrEP. 

Aqueles que concordaram em participar do projeto passaram a receber a profilaxia, com indicação de retorno para 30 dias, e aqueles que recusaram responderam a um breve questionário sobre os motivos da decisão. Entrevistas qualitativas foram conduzidas entre os que recusaram a profilaxia, os que a adotaram e aqueles que descontinuaram o uso de forma precoce, definidos como os que perderam a visita de 30 dias em uma janela de 60 dias. O estudo descreveu a frequência e os motivos para a recusa da PrEP, bem como os resultados qualitativos de recusadores e descontinuadores precoces.

Até 31 de dezembro de 2019, 2.732 HSH e mulheres trans elegíveis foram convidados a participar do ImPrEP no Peru, dos quais 2.128 (80%) se inscreveram e 532 (20%) recusaram. Os principais motivos da recusa foram: falta de tempo (38,3%), necessidade de mais informações sobre a PrEP (20,5%), preocupações com efeitos colaterais (13,7%), o fato de não querer tomar pílulas (8,9%), ter que fazer visitas trimestrais (2,7%) e crença que seu risco pessoal era baixo (6,5%). 

​Entre os que recusaram, 25,9% relataram relações sexuais sem preservativo com parceiro vivendo com HIV, 37,1% informaram trabalho sexual ou sexo transacional nos últimos seis meses, com 7% reportando renda mensal abaixo de U$ 250 (salário mínimo no Peru). Ainda entre os não participantes, 42,6% relataram percepção de baixo risco de infecção pelo HIV, 37,7% disseram que usaram preservativo na maioria de suas relações nos últimos seis meses e 71,3% declararam que não tiveram penetração anal sem camisinha com parceiros HIV+ nesse mesmo período.

Dos 2.128 inscritos no Peru, 1.940 eram elegíveis (91,2%), sendo que desse total 68,3% retornaram à primeira visita de acompanhamento entre 15 a 60 dias após a inscrição.

Entre as conclusões do estudo, de cada 10 HSH/mulheres trans elegíveis à PrEP, dois recusaram e a cada 10 que se inscreveram, três descontinuaram o uso mais cedo. Tanto a recusa quanto a descontinuação precoce podem refletir reações naturais à implementação da profilaxia em contextos de baixa conscientização e conhecimento. Os programas emergentes de PrEP devem fornecer ativamente informações acerca da profilaxia aos recusadores para ajudá-los a reconsiderar o seu uso e apoiar os aceitadores para evitar a descontinuidade precoce.

*Autores do trabalho assinado pela equipe de estudos ImPrEP: Carlos Cáceres (1), Kelika Konda (1), Gino Calvo Moreno (1), Oliver. A Elorreaga (1), J.P. Jirón (1), Juan Vicente Guanira (1), Hamid Vega (2), C. Benites (3) e Valdiléa Veloso (4).

  1. (1) Universidade Peruana Cayetano Heredia
  2. (2) Instituto Nacional de Psiquiatria Ramon de La Fuente Muñiz, do México
  3. (3) Ministério da Saúde, Prevenção e Controle de Aids/IST/Hepatites, do Peru
  4. (4) Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz-RJ, Brasil

​Para acessar o material apresentado na conferência:

https://1395cf30-9035-4b27-b33f-738f50602472.filesusr.com/ugd/f93c93_e28a7227dac3421484cac5b0ff85ea47.pdf